quinta-feira, 10 de abril de 2008

Uma mensagem de uma apoiante ...As opiniões são livres e enriquecem o debate...

Recebi esta mensagem em resposta à minha assinatura da petição online.
Aproveito a oportunidade para reafirmar toda a solidariedade com este gesto. Ou com esta tomada de posição.
Aproveito também para manifestar a vergonha que sinto ao ler a ocorrência deste tipo de situações. Não sei se é vergonha de ser portuguesa. É vergonha pelas decisões governamentais a que tenho (temos) vindo a assistir, nomeadamente no que refere à área da saúde. Vergonha pelos debates, palestras, entrevistas com os respectivos responsáveis, que se desdobram a justificar, argumentar, explicar a este povo que pretendem estúpido, que a saúde é artigo de luxo, é para quem pode e não para quem precisa, é secundário, é terciário. É uma grande maçada. Sobretudo para quem está doente. E na grande maioria das vezes para os familiares do doente. É um artigo que não tem brilho. Não tem características de Grande Produção. Não tem visibilidade internacional, não atrai turistas, não promove recepções, inaugurações, não fica bem na fotografia, não tem pistas de aterragem, nem sequer um freeshop. A área da saúde em Portugal mexe com doentes. É deprimente, triste. É um filme pobre. Há países em que a área da saúde promove a saúde. Em Portugal promove a doença, o arrastar da doença, a complicação da doença e consequentemente torna a doença cada vez mais cara. Talvez a forma como a saúde/doença é encarada, aliás desencarada, tenha efeitos a nível laboral. Talvez a saúde/doença crie dificuldades e demoras que impliquem ausências ao trabalho. Penalizadas. Penalizado o doente, penalizada a empresa, penalizado o país. País de doentes que só anda para a frente se tiver um TGV. Então compensa-se o país com um comboio, um estádio, uma ponte. É assim como um pai que tem um filho doente em casa, não o leva ao médico para não gastar dinheiro e depois compensa-o com uma playstation ou uns ténis de marca. Depois tira-lhe uma fotografia (doente - a doença não se vê na fotografia) e faz circular pelos amigos na Net, para todos verem que o miúdo se veste bem. Portugal é um país que trabalha a sua imagem internacional de País Que Se Veste Bem. Artigos de marca. Admitir que existe um problema de Saúde implica investir dinheiro na Saúde e Portugal tem outras prioridades. Nada de pieguices à Madre Teresa de Calcutá. Para isso existe a Misericórdia, mas essa, vá lá, tem o Euromilhões. Em Portugal os primeiros ministros correm e estão de saúde. É uma mensagem subliminar mas com o tempo os portugueses chegam lá. Se querem saúde - corram. Desatem todos a correr que a saúde vem por si. Ou alguém ainda não percebeu porque é que se fecham urgências? Porque obriga os doentes a correr até à urgência mais próxima e o mais certo é curarem-se pelo caminho. Quanto mais urgente fôr a doença, mais corre o doente. Está até bem visto e de facto poupa-se uma data de dinheiro, que sempre pode ser aplicado em mais uma IP, melhorando assim a circulação das ambulâncias, actualmente maternidades com rodas. É uma forma de pôr as crianças a nascer sobre rodas e assim já nascem a correr. Chegada aqui apercebi-me da essência da minha vergonha. Somos governados por dementes. E aqui temos um duplo problema. É que uma das características da demência é que o próprio não reconhece. Como não reconhece não se trata. E ninguém se atreve a dizer-lhe. Se esta campanha recolher MUITAS assinaturas acham que é uma achega? É uma indirecta? Pois! Não resolve! Então fica aqui uma sugestão : façam constar, que é desejo do povo, que de ora em diante, todos os governantes e respectiva parafrenália envolvente, deverão dar o exemplo e utilizar exclusivamente o Serviço Nacional de Saúde que oferecem ao dito povo. Nada de privados, clínicas, ou qualquer outro privilégio a que o povo também não tem acesso. Estes serviços deverão ser para uso exclusivo das empresas que produzem, e dos particulares que podem. Quem furasse este esquema deveria ser apontado, criticado, devidamente mediatizado pela negativa. Porque é haveriam de ter um tratamento preferencial ? Para sofrerem menos? Porquê? Ou para durarem mais? E quem é que lhes disse que nós queremos? Vão-se embora de vez. Vão correr para outro lado. Comprem uma passadeira e corram em casa. Deixem-nos em paz. É que estamos a correr para trás quanto ao que interessa e esta correria está a pôr o país de rastos.
M. David





Obrigado M. David pelo seu email.
Escreva-nos. Só com a critica que podemos nos reconstruir.

1 comentário:

Marta Campos disse...

Está disponível para consulta e discussão pública a Carta Hospitalar de Pediatria.

O documento foi elaborado pela Comissão Nacional de Saúde da Criança e do Adolescente e pretende traçar as linhas orientadoras da concepção de serviços hospitalares para crianças e adolescentes, centrados na família e na garantia da segurança e qualidade dos cuidados prestados.

http://www.acs.min-saude.pt/2008/04/04/cartahospitalarpediatria

Espero que ajude!