sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Novo Plano Funcional Do Futuro Hospital De Todos os Santos

Vive-se no hospital (não só entre os médicos, mas generalizadamente entre todos os profissionais) um ambiente de grande preocupação e desalento face à actual desarticulação dos serviços, e à destruição do Hospital Pediátrico, que o modelo do futuro Hospital de Todos os Santos quer nos impor.

Como há muito tempo as pessoas falam nos corredores e nos serviços (geralmente em surdina, até porque muitos estão em contratos precários), da necessidade de nos organizarmos, um grupo de profissionais decidiu impulsionar uma Pró-Associação . Essa procurará dar voz às preocupações, são não só dos profissionais, como também as de milhares de famílias que se interrogam sobre o futuro do hospital das crianças de Lisboa, e sobre qual seria a qualidade da assistência a ser dada a essas crianças, na hipótese do desaparecimento do H.D.Estefânia.

O documento oficial que permite aclarar essas dúvidas é o "PLANO FUNCIONAL DO HOSPITAL DE TODOS OS SANTOS" (no seu anexo 4).
O documento é de "livre" acesso ao funcionários do hospital, desde que dele se tenha prévio conhecimento e, nesse caso, é necessário fazer solicitação formal de sua consulta ao Conselho de Administração do D. Estefânia.
Trata-se pois de um documento "público", mas que na prática torna-se restrito pela dinâmica de acesso imposta. Obriga-se ainda, à identificação dos que a ele quiserem chegar...

As dúvidas existentes sobre esse documento, suscitam ansiedades que só se resolveriam caso este fosse divulgado através da página do hospital, ou publicamente pela internet.
Sua divulgação deveria ser imediata, pois todos os portugueses tem direito a saber o que se planeia para a saúde de seus filhos!

Vários colegas que analisaram o referido Plano, enviam-nos suas opiniões. Algumas destas contradizem a visão de progresso publicitada nas vantagens atribuídas ao novo hospital, no que diz respeito à assistência pediátrica. Julgamos que a ampla e livre divulgação do novo plano certamente propiciará condições de reflexão e debate que desvanecerão todas as dúvidas sobre o que é publicidade e o que é fato com sérias consequências na saúde materno-infantil e acreditaremos ou não na informação oficial.

A seguir compilamos e estruturamos uma colectânea das várias perspectivas que nos enviaram, as quais muito agradecemos e que solicitamos que nos continuem a enviar pois este é um espaço que se quer de esclarecimento e debate.

"Preocupa-nos que:

-A assistência à criança passe a ser feita, regressando ao passado, por profissionais sem formação especifica no atendimento e tratamento de bebes e crianças.


- Este documento retrate um Hospital Geral de Adultos, tendo sido colocados como anexos, ou em parágrafos acrescentados, apenas algumas referências à assistência à criança ( em espaços que sobram nas unidades de adultos)

- As reflexões e indicações previamente enviadas aos decisores, por parte do corpo técnico do Hospital, na sua maioria voltadas à criança, tenham sido ignoradas e substituídas por conceitos gestionários, que não contemplam a condição da criança doente nem de suas famílias.

- As áreas fundamentais de tratamento da criança estejam programadas para ser integradas em enfermarias de adultos, nomeadamente com doenças psiquiátricas. Mais estranho é quando, actualmente, hospitais com bons serviços de psiquiatria de adultos, enviam as suas crianças e adolescentes para internamento psiquiátrico em espaço próprio no Hospital de Dona Estefânia.

- Se queira destruir um hospital pediátrico de 200 camas, e reduzi-lo a um piso, ou andar num edifício basicamente preparado para doentes adultos.

- O modelo de assistência pediátrica do hospital pediátrico especializado e de apoio perinatal de Dona Estefânia, desenvolvido ao longo de mais de 130 anos, vá se assemelhar ao modelo de um andar destinado à pediatria, tal qual o que existe nos hospitais gerais das zonas mais afastadas como o da Amadora, Almada ou Vila Franca.

- Em outros países os grandes hospitais universitários que foram construídos nesse modelo dos anos 70 (o mesmo que agora querem nos impor em Portugal) estejam já reconsiderando a evidente vantagem de sua separação física em edifícios diferentes para as áreas de assistência à criança, ao adolescente e à mulher grávida."



Sobre o Internamento:

"Preocupa-nos que:

- Toda a pediatria médica e cirúrgica que no actual HDE tem cerca de 144 camas, passe a ser espremida em 44 camas "multi-especialidades", colocadas em quartos duplos.

- Recobros pós-cirúrgicos sejam feitos em conjunto com adultos, separados apenas por divisórias removíveis, acrescentadas ao plano de arquitectura base do novo hospital geral."



Sobre a Consulta externa:

"Preocupa-nos que:

- Estejam previstos apenas 10 gabinetes de pediatria, menos de 1/3 dos actuais.

- Não estejam previstos quaisquer gabinetes de consulta para as mais de 15 especialidades dedicadas à criança, que já hoje existem no Hospital D.Estefânia.

- Não esteja prevista a autonomia e especificação pediátrica de unidades diferenciadas no tratamento da criança como endocrinologia, nefrologia, desenvolvimento da criança, pneumologia, hematologia, ortopedia, neurocirurgia, urologia, oftalmologia, cirurgia plástica, estomatologia, entre outras. Ficando estas unidades como meros apêndices das unidades de adultos, subordinadas às técnicas e chefia de técnicos de adultos do futuro hospital de Todos os Santos. Retroceder-se-á com isso por décadas na qualidade do atendimento hospitalar da saúde infantil.


- As salas de técnicas diagnosticas sejam mistas com crianças e adultos, alguns muitos idosos e com situações susceptíveis de impressionar as crianças.

- Não existam instalações dedicadas às doenças infecciosas das criança, desconhecendo-se se irão partilhar com adultos as salas de isolamento, uma vez que apenas 4 camas estarão dedicadas para as crianças.


- As especialidades chamadas verticais, como a alergologia, genética, fisiatria, ORL, audiologia, etc, (que no actual hospital pediátrico de Dona Estefânia tem a sua actividade mais de 90% dedicada à criança), não tenham programados espaços para a criança, e regridam à mesma condição dos anos 50 do século passado, com a observação das crianças em espaços partilhados com adultos, numa lógica de "rentabilização" comercial de espaços e equipamentos.

- Nos casos em que o documento em análise ressalva a condição da criança no novo hospital, praticamente só seja feita referência à existência de sanitários para crianças e algumas separações dos adultos através de instalação de tabiques ou divisórias removíveis. Esta é, na essência, a forma como a arquitectura do novo Hospital de Todos os Santos se prepara para garantir a criação de um "ambiente pediátrico" protector e adaptado à criança.
"


Sobre a Fisiatria:

"Preocupa-nos que:

- A Fisiatria e reabilitação das crianças com deficiência passe a ser feita em 1/3 dos postos-gabinetes actuais.

- Os bebes e crianças portadores de anomalias físicas e do desenvolvimento passarão a fazer a sua reabilitação e em áreas e ginásios mistos com adultos
."


Sobre o Quadro Pessoal:

"Preocupa-nos que:

- O quadro de pessoal seja dimensionada para 1/3 das camas actuais, e que muitas unidades com capacidade de tratamento de crianças tenham que encerrar, ou não mais se possam desenvolver, por ausência de pessoal que faça a sua aprendizagem demorada na aplicação de novos métodos terapêuticos, e que sejam os médicos de adultos que tenham de estender a sua acção ao atendimento das crianças, por falta objectiva de profissionais preparados para o atendimento dos grupos etários mais jovens.


-As camas dedicadas à criança possam ser aumentadas até ao dobro em época de crise - situação mais que previsível - e à custa da montagem de mais camas em cada quarto com redução das condições de acompanhamento dos pais, com maior risco de infecção hospitalar e com sobrecarga imposta aos profissionais, contabilizando ratios de atendimento e risco intoleráveis."

4 comentários:

Anónimo disse...

Depois de ter ido a Portugal de visita e quase que perdi a minha filha com uma doenca que lhe deu, me fez sentir bem e confidente que tinham um hospital dedicado para as criancas. POis me encontro num pais em que a medecina e muito avancada, e saber que temos um hospital ai da comforto, mas o hospital tem que ser modificado porque esta mesmo a cair. Precisa mesmo de technologia nova, porque as paredes estao quase a cair. Muito obrigado.

Anónimo disse...

Já agora, o que pensam fazer da casa Ronald McDonald que deveria ser inaugurada em 2008? Uma repartição de finanças?

Realmente...

Anónimo disse...

Tenho duvidas que o meu querido filho tivesse um atendimento tão bom como teve aquando da sua entrada na urgencia deste mesmo hospital, onde foi detectado que ele era DIABÉTICO T1 (dependente de insulina) e imediatamente socorrido e medicado de acordo com o seu problema.
Eu e a minha esposa tivemos um curso intensivo sobre a DIABETES,por parte de todos os profissionais de saúde deste serviço, desde as /os auxiliares a até á equipa medica que acompanhou o meu filho até à sua alta, e que resultou numa mais valia no que respeita ao tratamento do meu filho, com tudo o que isso implica, por isso pelo que me diz respeito e de acordo com a minha consciência julgo que tem de se encontrar outra solução que não seja o encerramento do Hospital D. Estefânia, pois é" fundamental para a vida das nossas crianças".

Anónimo disse...

Atenção: Este amigo anónimo e emigrante fala de duas coisas distintas como se fossem uma coisa só. Proponho-me desfazer esta junção.
Arranjar paredes É MUITO DIFERENTE da necessidade de tecnologia.
1. O HDE tem sido deixado sem as obras necessárias e profundas de conservação e de valorização, por má gestão deliberada dos administradores nomeados pelo Ministério da Saúde.
2. Acresce que o HDE tem sido mal equipado e deixado sem equipamentos novos e sem recursos, não só por falta de financiamento previsto em Orçamento de Estado para o sector mas também devido a má gestão dos vários (des)Governos que conhecemos de há 33 anos para cá.

Quer as obras de conservação quer o equipamento são imensamente necessários. É, designadamente, para isto que eu e os outros contribuintes pagamos impostos.

Abraço a todas e todos.