ESTÁ EM CURSO O ENCERRAMENTO DO HOSPITAL D. ESTEFÂNIA: ESSE FÓRUM É UM INSTRUMENTO DE DIVULGAÇÃO DA LUTA DOS PROFISSIONAIS E SOCIEDADE CIVIL PARA QUE O SEU ACTUAL PATRIMÓNIO NÃO SEJA ALIENADO A ESPECULAÇÃO IMOBILIARIA E PERMANEÇA AO SERVIÇO DA MÃE E DA CRIANÇA E CONSTRUÇÃO DE UM NOVO HOSPITAL PEDIATRICO EM LISBOA .
Algumas considerações pessoais sobre a entrevista concedida ao
Jornal Expresso sobre os planos de encerramento sobre único
Hospital Pediatrico de Lisboa e Zona Sul de Portugal
O Dr.
Gonçalo Cordeiro Ferreira ementrevista que deu ao expresso (ver postagem
anterior) denuncia um crime que tem raízes antigas cujo horizonte estende-se há
mais de uma década, no governo de José Sócrates. quando o Professor Correia de
Campos era o Ministro da Saúde e criou o Centro Hospitalar de
Lisboa Central e paralelamente iniciou a organização para o
concurso PPP para construção do futuro Hospital de
Todos os Santos que viria englobar os antigos Hospitais Civis de Lisboa.
Naquela altura
em que os antigos Hospitais Civis ainda dispunham de uma oferta de cerca de 1400 camas, Os novos senhores do Ministério da Saúde, representantes dos planos neoliberais para a saúde propunham a sua substituição pelo novo
hospital , construído em regime de PPP. com uma capacidade prevista de apenas 600 camas! Estranho???
Incompetência?
Esta disparidade aparentemente absurda fará sentido se nos recordarmos que o Ministro das Finanças
da altura era Manuel Pinho e que nomeou o então ainda gestor do Grupo Mello
Engenheiro Pedro Dias Alves para orientar o concurso e escolha os projetos para
o novo hospital! O decisor do concurso publico , foi nomeado em assumido em manifesto conflito de interesses e representando um dos grupos privados ...e o mais estranho e grave é esta ilegalidade ocorreu sem qualquer denuncia publica!!!
Em síntese
, o encerramento a decisão de destruição e o encerramento do Hospital D. Estefânia
e dos outros Hospitais que englobam o Centro Hospitalar de Lisboa Central explica-se pelo facto de a atual reforma Hospitalar de Lisboa Central ter desde o seu início e em conivência com os governos ter ser conduzida
com o objetivo de servir os interesses de um grupo económico privado que estava interessado em esvaziar a oferta hospitalar publica em favor dos Hospitais
Privados que vieram posteriormente construir.
A estes estes
interesses financeiros se associaram os da especulação imobiliária, que ávidos de
se apropriarem dos espaços físicos daqueles hospitais para construção de condomínios
de luxo , num processo que foi bloqueado graças a discussão publica levado na AML por iniciativa da Arquiteta Helena
Roseta com apoio de parte significativa dos partidos.
Acrescente-se
que a sociedade civil desde o inicio se indignou contra o encerramento da D. Estefânia que a concretizar-se transformará
Lisboa na única cidade europeia sem um Hospital pediátrico e fez circular um abaixo assinado endereçado ao Presidente da República que reuniu cerca de 80000 assinaturas ( inexplicavelmente sem
resultados efetivos, testemunhando assim que no nosso Pais a voz da Sociedade Civil pode ser impunemente, desprezada, calada e esquecida.
Este
processo de denuncia levado pela Plataforma Civica obrigou aos gestores a reformularem o projeto PPP, aumentando a oferta do futuro Hospital para cerca de 800 camas, mas sem contemplar o espaço para um Hospital Pediátrico / Centro Materno Infantil , autónomos .
Este ultimo projeto foi levado a concurso, mas que por provavelmente por não interessar ao Grupo Mello, que não queria concorrencia publica com os seus novos hospitais
foi anulado , quando do Governo de Passos
Coelo desta vez por outro representante do Grupo Mello, o Dr. Luiz Filipe Pereira.
Sugerimos aos interessados em conhecer a cronologia histórica deste processo maquiavelico que leiam as postagens
antigas deste Blog. .
Finalizando e exemplificando como
paradigma oposto e testemunho vivo de outra cultura revisitamos o andamento das obras do
novo Hospital Pediátrico que esta a ser construido em Dublin.
Felizmente no nosso Pais temos ainda exemplos de onde a cultura civica permanece viva e actuante e aqui enaltecemos o apoio dos profissionais e populações de Coimbra e do Porto tem dado aos seus hospitais pediatricos .
Em Dublin ao contrário
do que se passa em Lisboa aquele projecto desde o inicio foi discutido e escrutinado pelos
profissionais de saúde e a sua construção tem crescido a par e
passo com as disponibilidades do erário publico, prevendo-se a sua conclusão em
2024....enquanto em Lisboa são grupos económicos e gestores ligados ao negócio
da saúde que programam pela calada o fim da assistência pediátrica
especializada das nossas crianças.
Nota :Esta mensagem reflecte exclusivamente a opinião de Pedro Paulo Machado Alves Mendes
O diretor de Pediatria do Hospital Dona Estefânia, Gonçalo Cordeiro
Ferreira, não gosta de aparecer nos média, mas a desilusão com o
processo de construção do novo Hospital de Lisboa Oriental fê-lo vir a
público, “a título pessoal”, contestar a decisão. Avisa que, “ como sempre, as crianças vão ser penalizadas”,
mas diz que ainda é possível alterar o rumo daquele que acredita ser o
maior investimento nacional em saúde das últimas décadas, uma parceria
público privada na zona de Marvila, avaliada em mais de 500 milhões de
euros
Gonçalo Cordeiro
Ferreira, médico pediatra
O
diretor de Pediatria do Hospital Dona Estefânia, Gonçalo Cordeiro Ferreira, não
gosta de aparecer nos média, mas a desilusão com o processo de construção do
novo Hospital de Lisboa Oriental fê-lo vir a público, “a título pessoal”,
contestar a decisão. Avisa que, “ como sempre, as crianças vão ser
penalizadas”, mas diz que ainda é possível alterar o rumo daquele que acredita
ser o maior investimento nacional em saúde das últimas décadas, uma parceria
público privada na zona de Marvila, avaliada em mais de 500 milhões de euros
Projeto do Hospital de Lisboa Oriental“chega a ser
criminoso. Como sempre, ascrianças vão ser penalizadas”, acusa diretor do D.
Estefânia
Gonçalo
Cordeiro Ferreira rompe o silêncio e critica publicamente o processo de
substituição de seis unidades hospitalares no centro da capital -Capuchos, São
José, Santa Marta, Curry Cabral, Maternidade Alfredo da Costa e Dona Estefânia
- por uma unidade na zona de Marvila.
O Hospital de Lisboa Oriental não convence o
decano da Pediatria, que classifica o processo de opaco. Diz que fala como
cidadão e pediatra e pede que se aprendam as lições tiradas da pandemia. Porque
sente necessidade de vir a público falar sobre a construção do novo hospital de
Lisboa?
Em
primeiro lugar, por um imperativo de consciência enquanto médico, pediatra e
cidadão em nome da assistência das crianças, que não vai ficar bem assegurada
por este novo hospital e que não tem nada a ver com qualquer papel meu porque,
se e quando este hospital estiver construído, eu já estarei felizmente
reformado. E porque chegou-nos uma enorme oportunidade de reflectirmos, que é a
pandemia. Mais do que nunca se impõe olhar para a estrutura hospitalar pré e
pós pandemia.
Que
lições a pandemia nos deixou neste aspeto? A pandemia ensinou-nos lições
extraordinárias. Desconstruiu um mito propagandístico divulgado pelos
economistas da saúde de que, no futuro, era para diminuir o número de camas de
internamento. Como se viu, não é possível. Andámos aflitos pela falta de camas
e fizemos tudo à última da hora, com custos financeiros muitíssimo superiores
do que se tivéssemos tido a capacidade instalada. E até tivemos alguma sorte
porque se andaram a fechar muitos internamentos. É uma lição de humildade para
os economistas da saúde, para ouvirem mais os médicos. Só não foi pior porque a
pandemia, nas primeiras fases, atingiu sobretudo os adultos e sacrificaram-se
as camas pediátricas para os atender. Poderia ter sido pior? Se a pandemia
tivesse tido um grande impacto nas crianças, não sei o que poderia ter
acontecido porque a maior parte dos hospitais não tinha grande flexibilidade. E
para haver flexibilidade é necessário haver espaço. Em Lisboa e Vale do Tejo,
só conseguiríamos encontrar esse espaço em dois sítios: os hospitais Curry
Cabral e o Dona Estefânia. Mesmo Santa Maria tem pouco espaço, as reservas que
existiam se esgotaram. E todo os hospitais construídos no século XX nesta
filosofia, como o Beatriz Ângelo ou o Fernando Fonseca, estão muito entalados. Esta
foi uma moda que não corresponde às necessidades do século XXI, como se viu,
que vão nos colocar problemas com novos agentes pandémicos
.
E houve mais alguma lição relevante?
Sim,
que vamos pagar muito caro no futuro. quando a pandemia surgiu, o SNS estava
completamente desnatado em termos de pessoas e de equipamento, o que aconteceu
porque, como nunca desde o 25 de Abril, a Saúde estava completamente
dependente da ditadura dos ministros das Finanças. Vítor Gaspar e Mário Centeno
foram autênticos ministros da Saúde, cuja única função era fechar as torneiras,
o que obrigou a atual tutela da Saúde afazer um esforço em termos de
equipamentos e recursos humanos, que vai sair muitíssimo caro no futuro. Mais
uma vez sacrificamos as perspetivas de futuro ao presente. Tivemos uma
oportunidade com a gripe A e não aprendemos nada e é por isso que tenho muito
medo de que voltemos a não aprender nada.
O
modelo do novo hospital não responde a estas lições?
Faz-me
uma pergunta pertinente à qual não posso responder com firmeza porque,
extraordinariamente, nunca me foi mostrado o plano funcional do novo hospital.
Já pediu? Então não pedi? Começou a ser falado em 2005 e atravessou até agora,
quatro governos, cinco ministros, três ARSLVT e três administrações do Centro
Hospitalar de Lisboa Central (CHLC).
O
primeiro programa que surgiu era aterrador e todos os responsáveis disseram que
tinha de ser profundissimamente alterado. E foi?
Aparentemente,
algumas críticas foram acolhidas, mas a partir daí gerou-se um silêncio
assustador. Mas o programa continuou a evoluir, fizeram-se concursos, eu diria,
quase clandestinamente e ainda não veio à luz do dia.
É
certo que vão passar das atuais mais de 1300 camas em seis hospitais do CHLC
para 875?
Não
se tem a certeza. Há um programa funcional que circula, não sabemos se é apócrifo
ou não, mas que tem alguma possibilidade de ser real e que aponta para isso.
Mas, a ser construído, depois do Santa Maria, construído nos anos 50, no Estado
Novo, este é o primeiro grande hospital construído em tempo de democracia. Portanto,
seria interessante, até para a autoestima dos políticos, que fosse um marco.
Tem sido classificado como um investimento "histórico". Mas não vai
ser, da maneira como está a ser concebido. Mais do que o objetivo, é a forma
lamentável como está a ser feito, sem qualquer discussão pública. E quanto à
finalidade, é muito discutível. A começar e é simbólico pelo próprio nome.
Começou por ser chamado de Hospital de Todos os Santos, o primeiro hospital em
Lisboa, destruído pelo terramoto de 1755, que viria a ser substituído pelo
Hospital de São José. Seria o nome lógico e agregador, mas o ministério deixou
cair e substituiu um nome histórico, por uma designação geográfica. Ao lavar as
mãos mostrou o interesse que o projeto lhe suscita.
Olhando
para o que lhe chegou, qual a sua opinião?
Fico
abismado. É impossível lá meter o equivalente a seis hospitais. Fala-se em
flexibilização, mas o máximo que apontam nem sequer chega para as encomendas.
Na Pediatria teremos cerca de 96 camas, com os planos de contingência, e para
tudo -Ortopedia, Cirurgia... temos cerca de 190. Mas se nas camas a situação já
não é boa, no ambulatória a situação seria ainda mais absurda, com não mais de
20 gabinetes de consulta externa, incluindo até a própria Ginecologia e
Obstetrícia e cinco gabinetes para as Especialidades Pediátricas. Se for mesmo assim,
não é miopia, chega a ser criminoso porque estamos a condena reste e hospital à
insignificância e a morrer antes de abrir. Não vais servir para ninguém. E isso
não me foi apresentado, tive conhecimento não oficial. Não houve uma
apresentação oficial do plano.
Nunca
pediu uma reunião?
Claro.
Tivemos uma reunião porque nem sequer tinha espaço para a Unidade de referência
para Doenças Epidemiológicas Nascentes. Para se tentar encaixar, mas não sei
como ficou, nunca nada apresentado na globalidade, nem nas características
arquitetónicas. completamente
desadequado? Antes do conteúdo, é a própria forma. No Norte, quando se construiu
o Centro Materno Infantil do Porto, uma carta aberta ao então ministro da Saúde
dizia que o projeto foi colocado em discussão pública. Esta carta foi escrita
pelo ex-secretário de Estado, Fernando Araújo, atual diretor do Hospital de São
João. O que me surpreende que este hospital, que seguramente será uma obra
cara, e um marco para o país e para Lisboa, só tenha sido falado de forma
tímida. Nem os políticos nem os media se interessaram por isto. Espanta-me como
escapou ao escrutínio de políticos e jornalistas, porque é para isso que cá
estão. Espero que com a campanha eleitoral para Lisboa o assunto venha átona, e
que os candidatos digam o que pensam que Lisboa precisa e merece.
Qual
o papel da Câmara Municipal de Lisboa?
Não é
assim tão inocente quanto parece. A Câmara pode contribuir para a resolução
desta situação porque o hospital é totalmente insuficiente e querem colocar a
Pediatria numa prumada, que vai negar o mais importante que é o ambiente
terapêutico, que é todo o aspeto que permite às crianças não se acharem num
hospital. E com espaços verdes, o que é impossível neste projeto. Mas a Câmara
pode ajudar. Há vantagens na associação a um grande hospital de adultos, mas
temos de estar separados. Defendemos que haja um polo de adultos e outro
materno-infantil, com uma construção ligada, mas independente. E a Câmara tem
naquela zona um terreno que está livre, que era para ser cedido ao IPO, que
também ia migrar para lá
.
Ainda seria possível?
É em
nome de um bem maior. A Pediatria precisa de um espaço próprio, que permita
instalar todas as conquistas para as crianças feitas pelo D. Estefânia. Uma
torre integrada num hospital de adultos não serve. O que se passou foi que se
sabia que as pessoas não concordariam com este projeto e foram mantidas longe,
enquanto os concursos avançavam, porque foi tudo liderado, acredito eu, pela
pressão das Finanças, com a cumplicidade da Saúde. A única possibilidade de
contrariar a vontade das Finanças é com a vontade política, que aqui nunca foi
declarada. Este nunca foi um assunto fundamental. E agora tem de chegar à
discussão pública, que constrói a vontade política. O que me choca mais é a
total opacidade. É assustador.
Sim
! como temos desde sempre denunciado é um projecto redutor, que
obedece aos interesses financeiros ligados a saúde e a especulação imobiliaria, que no
caso estão representados por gestores economicistas sem qualquer sensibilidade para as necessidades assistenciais das nossas crianças.
.Se antes os seus objectivos já seriam obscuros os de agora o
serão duplamente, pois a pandemia demonstrou a imperiosidade da
separação de circuitos e dos espaços hospitalares nas suas diversas
vocações de forma a que não se transformem eles proprios em elos de
transmissão da doença .