EXPRESSO 2022-03-28
"Hospital Dona Estefânia está sem exames à noite por falta de médicos"
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Urgência está sem TACs e outros exames de imagem desde domingo. Administração
do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), que engloba o
Estefânia (o maior hospital pediátrico do país) garante que nenhuma criança
fica sem os exames necessários. Nenhuma outra das unidades do CHULC tem
radiologia pediátrica
28 MARÇO 2022 17:43
Vera Lúcia
Arreigoso
Jornalista Expresso
As crianças que entrem na Urgência do maior hospital pediátrico do país, o Dona
Estefânia (Lisboa), durante a noite não têm acesso a exames de imagiologia.
Isto porque os serviços de TAC e outros meios complementares de diagnóstico de
imagem estão indisponíveis desde o passado domingo, entre as 20 horas e as
primeiras horas da manhã, por falta de equipa clínica.
Ao Expresso, a administração do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa
Central (CHULC) confirmou a falta de cuidados, garantindo que nenhuma criança
fica sem os exames necessários, embora sem adiantar como estão a ser efetuados
atualmente.
"O CHULC regista ausências de profissionais por razões de saúde e de
parentalidade e está a procurar resolver a dificuldade pontual da imagiologia,
quer internamente quer recorrendo a contratação externa. Em todo o caso,
ninguém fica por atender."
O Expresso já voltou a questionar o centro hospitalar sobre o que está a ser
feito e para quando se prevê uma solução e aguarda os esclarecimentos. Importa
sublinhar que nenhuma outra das unidades do CHULC, como o Hospital São José,
tem radiologia pediátrica. Na Maternidade Alfredo da Costa, também integrada no
CHULC, há imagiologia para utentes não adultos, mas apenas para recém-nascidos.
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Outras interpretações possiveis :
Algumas contradições que estão na origem da falta de profissionais e que são omitidas, mas que gostaríamos de ser esclarecidas pelos Gestores /Administradores do CHLC
- Quantos médicos foram contratados em substituição dos médicos radiologistas Pediátricos que se reformaram nos últimos anos o que tem levado a sobrecarga dos restantes? Segundo consta nenhum.
- Como se explica que na resposta do Conselho de Administração a Jornalista do Expresso estes se referem sempre “a médicos em geral” “esquecendo-se" que os especialistas em falta são médicos radiologistas pediátricos , competência esta que exige vocação e formação especificas pois a sub especialidade de radiologia pediátrica é reconhecida internacionalmente e que o seu tirocínio segundo o currículo europeu deve ser realizada num Hospital Pediatrico e que deixará de existir no Hospital Generalista de Lisboa Oriental que será construído em regime de PPP pela Somague no Vale de Chelas ( nota 1) e que transformará Lisboa em uma exceção ao tornar-se uma das únicas capitais da Europa desprovidas de Hospital Pediatrico.
-Se é verdade que de facto que os Srs. Gestores estão consequentemente empenhados em resolver o problema e não apenas adia-lo porque não pugnaram por extirpar o mal pela raiz exigindo ao Ministério da saúde a revogação o conjunto de medidas neoliberais implementadas quando do Ministério da Saúde de Correia de Campos e que tiveram como objetivo a sangria dos quadros médicos especializados para os Hospitais privados.
-Dentre as medidas legislativas desestruturantes do SNS que aquele Ministério implementou realçamos duas:
1 - Extinção das carreiras médicas e sua substituição pela contratualização de forma a quebrar/ enfraquecer os laços dos profissionais com o SNS e a prestação do serviço publico pela mercantil aliciando os melhores profissionais com a oferta de salários maiores.
2- Pela obrigatoriedade de os Conselhos de Administração em autorizarem a redução da carga horaria quando solicitado pelos profissionais em acumularem horários com o Serviço Publico e permitir que trabalhem nos Hospitais Privados. Esta medida traduz-se numa diminuição efetiva da disponibilidade de profissionais para organizar as equipas de urgência. A revogação destas medidas obviamente terá que se fazer acompanhar de um pagamento condigno aos médicos que trabalham no SNS.
Finalmente indagamos porque os atuais Administradores, Gestores / Ministério da Saúde não implementam a concentração do conjunto da Urgência Pediátrica da área Metropolitana de Lisboa num único Hospital Infantil aberto 24 horas. e que poderá integrar da totalidade dos médicos radiologistas pediátricos disponíveis, que nas circunstâncias de dispersão quórum para organizar escalas de urgência noturna nos hospitais.
A economia de escala possibilitará uma melhor gestão de pessoal e dos equipamentos.
Nota 1: Concurso ganho pela Mota Engil e de cujo projeto e seleção estiveram ostensivamente excluídos os representantes dos médicos pediatras. (ver neste blog entrevista do Dr. Gonçalo Cordeiro Ferreira ao Jornal Expresso)