domingo, 30 de novembro de 2014

Em Defesa do Hospital Pediatrico de Lisboa - Professor Gentil Martins - "Jornal o Publico "6/12/2014 em Defesa de um novo Hospital Pediatrico em Lisboa






Hospitais Pediátricos, Autónomos e de Referência: SIM ou Não ?    
    
   Ao contrário do que alguns dizem, é bem sabido que continuam a construir-se em todo o mundo novos Hospitais Pediátricos, em locais tão distintos como a África do Sul ou a Alemanha, de onde veio a nossa Rainha D. Estefânia que deu o nome ao actual Hospital , em Lisboa,  ( na sequência da doação da Quinta da Bemposta por D. Pedro V )   
          Nas 27 Capitais dos Países da União Europeia (excepção feita pela Islândia, que só tem cerca de 300.000 habitantes), existem Hospitais Pediátricos ( para além dos muitos outros existentes nas principais cidades da maioria daqueles ) Damos o caso da Inglaterra, por exemplo (onde nos especializámos ) e em que, além de em Londres, existem Hospitais exclusivamente pediátricos ( e até alguns novos…. ), em Liverpool, Edimburgo, Glasgow, Newcastle, Bristol, etc. etc.. 
Assim florescem em todo o mundo os Hospitais Pediátricos como um sinal de civilização. Portugal é também exemplo, tendo inaugurado há poucos anos um novo Hospital Pediátrico em Coimbra e discutindo-se um ou dois para o Porto: o Joãozinho, ligado ao Hospital de S. João e o Maria Pia ligado ao Hospital de Santo António e ao Centro Materno Infantil do Norte.
   A Irlanda, que atravessa como nós um momento difícil, anunciou a construção de um novo Hospital autónomo, exclusivamente Pediátrico, na sua capital, Dublin, considerado pelo Primeiro-Ministro irlandês como uma inadiável prioridade nacional…. ! Será que seremos nós os iluminados vanguardistas que irão mostrar o bom caminho aos outros ? Não nos parece aconselhável……
               Na legislatura anterior, quer a Assembleia Municipal de Lisboa, quer a Comissão de Saúde da Assembleia da República, aprovaram por unanimidade a existência de um Hospital Pediátrico na Capital.  Mais tarde, ( e pela 3ª vez ) a Assembleia Municipal de Lisboa, numa nova moção votada também por unanimidade,  procurou garantir a existência de terreno (no novo PDM de Lisboa) para um  Hospital Pediátrico independente.
              É evidente que um novo Hospital Pediátrico deverá ser parte de um Centro Hospitalar, assim tendo proximidade a um Hospital de Adultos ( o Futuro Hospital Oriental de Lisboa ), devendo ser ambos autónomos, mas com colaboração mútua e partilha de experiência e saberes.
              Num Hospital Pediátrico moderno, a tecnologia é importante, mas muito mais importante é sobretudo o “Ambiente Pediátrico” e a humanização, bem como a dedicação plena e a experiência naturalmente maior dos Especialistas Pediátricos e de múltiplos profissionais, preparados em todos os pontos do circuito, para o atendimento de acordo com as características da idade pediátrica e para a relação indispensável com as famílias. Tudo isto são aspectos indispensáveis, e não facilmente reprodutíveis num hospital com adultos.
               Por outro lado, o espaço do actual Hospital de D. Estefânia, expressamente doado pelo Rei, nunca poderá deixar de ser preservado e será certamente da maior utilidade ao serviço da Criança, na convalescença, na reabilitação, nos cuidados continuados etc., etc., para assim não se defraudar a intenção Real e as necessidades da população infantil mais frágil.
                O mais importante, e mesmo fundamental, é que nunca deverá ser o dinheiro, mesmo em tempos de crise financeira, a precipitar uma opção profundamente errada e retrógrada que se irá reprecutir negativamente durante múltiplas gerações, em custos humanos e materiais .
                Assim, a prazo, os ganhos obtidos, sobretudo pela qualidade (que hoje todos defendem como prioritária), compensarão certamente eventuais custos acrescidos   ( se é que existem ?), de uma nova construção, autónoma, moderna e com perspectivas de futuro.
                Afinal não se defendem os Centros de Referência ?
                E não se pense que a Plataforma Cívica, que defende a existência, em Lisboa, de um Hospital Pediátrico autónomo, é contra a construção de um Moderno Hospital de Todos os Santos: bem pelo contrário! Mas regredir, técnica e civilizacionalmente, isso, como portugueses,  não estamos dispostos a deixar passar na ignorância da realidade.
                Acreditamos, e tudo leva a crer, que o bom senso finalmente prevalecerá, e que as  Crianças portuguesas não serão "esquecidas", até porque delas dependerá o futuro do País. E mais uma vez se refere: vale certamente a pena reflectir, ponderadamente, sobre o panorama mundial e, em particular, sobre o  exemplo da Irlanda e da sua Capital.
               As crianças, como dizia Pessoa, são os seres mais importantes, e Portugal, para sobreviver, necessita delas. Como poderá pensar-se então que deixe de existir um Hospital Pediátrico de Referência, em Lisboa, e servindo todo o sul do País,  os Açores, a Madeira e mesmos alguns países lusófonos ?
                Que há melhor para as Crianças doentes e as suas famílias, do que ter "um Hospital só para elas": um verdadeiro Hospital Pediátrico ? Não seria este o seu melhor presente de Natal  e de Ano Novo, para  2015 ?
  
                                   Prof. Dr. António Gentil Martins 
      Cirurgia Pediátrica e Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética
Ex-Presidente da Ordem dos Médicos e da Associação Médica Mundial 

                                                                                                                   Lisboa 29 de Novembro de 2014