quarta-feira, 14 de agosto de 2013

OS PROFISSIONAIS DO CENTRO HOSPITALAR UNEM-SE EM DEFESA DO PATRíMONIO HISTÓRICO CIENTIFICO , CULTURAL E URBANO CIDADE DE LISBOA ( JORNAL PÚBLICO - VITOR SERRÃO)


Quando há 5 anos  iniciamos a nossa luta em defesa  de um Hospital Pediátrico para Lisboa e do Património do Hospital de D. Estefânia como de pertença da mãe , da criança, obtivemos o   apoio maciço da população que se manifestou com 80.000 assinaturas endereçadas ao Presidente da Republica ..(1). não se manifestou   apoio activo   das restantes unidades que constituem  o Centro Hospitalar.
    A existência  nos grandes centros populacionais de Hospitais  Pediatricos  Terciários  autónomos  geralmente  integrados em "Centros Hospitalares" com que estabelecem  relações  complementares   é hoje  um conceito adquirido no mundo civilizado.
    A evolução histórica do antigos Hospitais Civis de Lisboa foi  ela própria um exemplo desta evolução conceptual  e é do interesse  comum aos profissionais e população  de que  o futuro Hospital de Todos os Santos não se resuma" em mais um" Hospital Generalista de tipo Distrital de acordo com o actual projecto  redutor  e interesseiro da PPP,  mas sim num "Centro Hospitalar" com unidades Materno e Infantil diferenciadas.
    Em relação ao actual Património edificado e espaço físico do  actual Centro Hospitalar , desde sempre alertamos para  os interesses especulativos e financeiros  envolvidos e na sua ausência de sensibilidade   e que contam com a  conivência de parte de poder politico para sua actuação arbitraria de " factos consumados". Interviemos com um abaixo assinado junto a Câmara Municipal de Lisboa  quando da discussão do PDM e  foi-nos garantido que aquele espaço seria dedicado a "equipamentos" e não a construção de condomínios.
Não poderíamos assim deixar de estar inteira e activamente   solidários  com o actual processo de critica aos projectos de arquitectura  da "Colina de Santana "que como é a regra neste processo   tem sido  tratado em "privado"  e com "privados" de que os munícipes e profissionais foram alijados.
Propomos aqui  que este movimento critica se alargue ao  Plano Funcional e ao Projecto Arquitectura " do  Futuro Hospital de Todos os Santos"no sentido de que venha a respeitar o legado e diferenciação das diversas unidades Hospitalares que o compõe e nomeadamente o Hospital D. Estefânia e a Maternidade Alfredo da Costa.
*1- Infelizmente sem os resultados que se esperariam  por razões pouco claras.
Assina:  Pedro Mendes - Médico Radiologista HDE



Seguem-se a documentação do processo em cursona integra :


Pela Reprovação Global do projeto de Loteamento Hospital Miguel Bombarda – nº 14/URB/2013, em  Consulta e Discussão Pública de 1 a 31 de Julho, assim como dos projectos de Loteamento para os Hospitais de S. José, Sta Marta e Capuchos.

Por pequeno aviso publicado num jornal, soubemos que iriam para consulta e discussão pública entre 1 e 12 de Julho no edifício do Campo Grande, 1F, quatro Projectos de Loteamento (venda mais facilitada, por lote) para os Hospitais Miguel Bombarda, S. José, Sta Marta e Capuchos, que deram entrada na Câmara Municipal de Lisboa em meados de Junho, para aprovação.
Após denúncia do espaço de tempo ser curto, o prazo foi alargado até dia 31 e adiada a decisão da CML para depois das eleições autárquicas. Assim, há que exigir de todos os partidos e candidatos, uma posição clara sobre estes chamados Loteamentos, nomeadamente a sua REPROVAÇÃO.
Pela quantidade e importância de edifícios que os projectos prevêm demolir ou transformar, estamos desde logo em presença de uma das maiores intervenções urbanísticas de sempre realizadas na zona histórica de Lisboa. Os projectos foram apresentados pela Estamo, empresa do Ministério das Finanças, que há uns anos “comprou” esses hospitais, pedindo empréstimos cujo montante serviu para encapotar o défice da Saúde …
Descrevemos a seguir as principais intervenções contidas nesses projectosl:
- Hospital Miguel Bombarda
 Seria mantido e restaurado o Pavilhão de Segurança e o pequeno Laboratório /Morgue, destinado a fins culturais não especificados (não se refere o singular Museu aberto, único na Península …); também mantido o outro pequeno edifício classificado, de Interesse Publico, o Balneário D. Maria II.
O Edifício Principal, o notável e histórico Convento da Congregação da Missão, de S. Vicente de Paulo (1720-1740), que resistiu sem danos ao terramoto de 1755, onde se instalou em 1848 o primeiro hospital psiquiátrico do país, e que se conserva na quase totalidade sem alterações (ao contrário do que afirma em sucessivos erros históricos grosseiros o dito projecto, ignorando dezenas de documentos e as plantas de 1835 existentes no Arquivo Militar) será destinado a Hotel, com parque subterrâneo e demolição dos interiores, à excepção das fachadas, da Igreja, do salão nobre e do gabinete onde o Prof. Miguel Bombarda foi assassinado em 1910, sendo integrado no Hotel o já referido Balneário …
Todos os outros edifícios seriam totalmente demolidos, apesar do seu excepcional valor histórico e arquitectónico, apesar de todo o Hospital ser Zona Especial de Proteção (Portaria nº 1176/2010 de 24 de Dezembro) e apesar de ter sido proposta a sua classificação em Março último, em Candidatura apresentada à Direção Geral do Património, sustentada em investigação irrefutável, subscrita pelas prestigiadas Sociedades de Psiquiatria, de Neurologia, de Arte Terapia, de Arte Outsider, pela Congregação da Missão, e pelos dois mais distintos historiadores de arte, Prof. Raquel Henriques da Silva e Prof. Vítor Serrão.
Assim, as demolições seriam quase totais, abrangendo os interiores históricos do Convento (que resistiu ao terramoto mas não resistiria ao vandalismo que assola Lisboa), o Edifício de Enfermarias em poste telefónico (de 1885-1894), dos primeiros do mundo, de um piso baseado em Esquirol e de racionalismo pré modernista, rodeado de jardins, do arquitecto José Maria Nepomuceno, o Edifício de Enfermarias em U (de 1900), vanguardista dos primeiros em betão, a Cozinha (de 1904), com tecto futurista em ferro, o enorme, elegante e raríssimo Telheiro, para o Passeio dos Doentes (1894), e até o poço e o tanque da Quinta de Rilhafoles, anteriores ao convento, com cerca de 500 anos, etc.
O Balneário, inaugurado pela rainha D. Maria II em 1853, considerado na época e ainda hoje o melhor da Europa, que conserva grande parte dos equipamentos … integrado num reles Hotel sem identidade … que conterá também o gabinete do Prof. Bombarda, o mais significativo testemunho material da implantação da República, e constituirá também uma infâmia para a Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo e para a Família Vicentina
O que se pretende é escandaloso, representa um Grave Atentado contra a Cultura Portuguesa e Europeia, destruindo edifícios de excepcional valor histórico e arquitectónico, em termos nacionais e internacionais, e apagando a Memória, da religiosidade, da Ciência e das suas inovações e mestres (Miguel Bombarda, Júlio de Matos, Sobral Cid, António Flores, Barahona Fernandes, Almeida Amaral ou Eduardo Cortesão), e da vivência dos Doentes Mentais e da sua criatividade artística e sofrimento.
E para quê ??  Para um Hotel sem identidade, para 4 lotes/prédios paralelos, outro prédio duplo junto à Gomes Freire, com  seis torres de 8 pisos (que depois subirão para 12, como é costume …), num condomínio desenquadrado e hostil à zona, por onde será rasgada uma incrível e perigosa Rua para viaturas, em zig zag com 6 curvas, 2 delas em cotovelo, que passará por baixo de 4 prédios e irá do Conde Redondo até à Gomes Freire … um pavor !
O que propomos ? Dizer Não à destruição da Cultura e da Identidade de Lisboa, e criar no belo espaço e edifícios do ex Hospital Miguel Bombarda, praticamente sem obras, um Pólo Cultural de excelência, revitalizador da zona e da cidade, dinâmico e sustentável, aberto aos moradores, atração para turistas e visitantes (com retoma do eléctrico Martim Moniz-Gomes Freire), que inclua um Museu alargado dedicado à Arte de Doentes e de Autodidactas de todo o país, e à História da Psiquiatria e das Ciências da Mente, desde logo com os integrais arquivos médico e forense do Hospital, dos melhores da Europa, as coleções de arte e de fotografia, com mais de 12000 exemplares (dos artistas Jaime Fernandes, José Gomes, Valentim, do poeta Ângelo de Lima, e de tantos outros), um Centro de Investigação, amplas exposições permanente (uma delas dedicada à Congregação da Missão) e temporárias, conferências e workshops, um Ateliê de artes plásticas, Galeria (para venda de peças), Loja e Café,  espectáculos de música, teatro e bailado, etc
No Hospital de S. José, memória do Hospital de Todos-os-Santos e símbolo da Medicina Portuguesa, não se indica o destino do notável edifício, ex Colégio dos Jesuítas (deveria ser um Museu da Saúde), dois novos prédios de 6 pisos prejudicam a vista do Colégio/Hospital, e tapam o Torreão de Sant’Ana, o maior da muralha Fernandina, de 1383. E sem justificação é demolido o notável edifício do Instituto de Medicina Legal, do arq. Leonel Gaia. No Hospital dos Capuchos só o estritamente classificado é mantido, e eleva-se um silo de estacionamento no horizonte da Igreja. E  no Hospital de Sta Marta com a sua bela Igreja e Claustros, onde o nosso Nobel Egas Moniz inventou a angiografia e a leucotomia,  instala-se outro Hotel, quando pelo local turístico e beleza só faz sentido um Museu, como o da Música ou das artes indo-portuguesas. Em tudo, querem esquecer a História e destruir Património.
Sem prejuízo de outras ações, apelamos aos cidadãos consciente para exercerem os seus direitos na Discussão, sem medo, e a solicitaram ao Sr. Presidente da Câmara de Lisboa, a REPROVAÇÃO destes projectos, que terá de ser efectuada em separado por Hospital e em impresso ou termos específicos.

                              Comissão para a Salvaguarda do Património

Lisboa 12/7/2013                 contactar  933220913 / 217585085 / reginacarr@hotmail.com




Exma Ministra das Finanças
Doutora Maria Luís Albuquerque

Foram apresentados pela Estamo (empresa do Ministério das Finanças), no passado mês de Junho, na Câmara Municipal de Lisboa, para aprovação, quatro Projetos de Loteamento dos Hospitais de S. José, de Sta Marta, dos Capuchos e Miguel Bombarda, localizados na  secular Colina de Sant’Ana.
Os subscritores desta carta consideram esses Projetos um Gravíssimo Atentado ao Património Histórico, Cultural e Arquitectónico de Portugal e da Europa, altamente lesivos da Memória da religiosidade, da assistência hospitalar, da medicina, de mestres da ciência e da vivência dos doentes, além de prejudicarem o desenvolvimento económico do país a curto e longo prazo, afectando irremediavelmente o Turismo Cultural, com a ilusão de se obterem umas receitas fáceis, e, por esses motivos, de Superior Interesse Nacional, solicitam a Vossa Excelência, Senhora Ministra das Finanças, o Cancelamento Imediato daqueles quatro Projetos de Loteamento.
Seria redundante especificar nesta carta o Excepcional Valor Patrimonial destes quatro Hospitais, tornado público por prestigiadas entidades e por historiadores especializados.
Salientamos, no entanto, algumas das graves omissões, erros e soluções contidas em todos esses projetos.
As omissóes e erros grosseiros verificam-se logo nas memórias justificativas que servem de base às soluções definidas: omite-se por completo a história da assistência hospitalar nos quatro hospitais, que consequentemente não é considerada a de maior influência no país; não foram realizados quaisquer estudos  sobre as dezenas de edifícios hospitalares a demolir, incluindo com rigor as suas finalidades integradas, datação, autoria, arquitectura, valor estético, etc, e cuja importância patrimonial não foi portanto estabelecida; não foram consideradas condicionantes obrigatórias, como, por exemplo, do PDM (bem descritas nos documentos do ICOMOS), ignoram ou erram as zonas especiais de proteção de edifícios classificados, dentro ou fora dos hospitais, etc.
Assim, partindo de bases erradas ou sem justificações, obrigatórias em projetos desta dimensão, as soluções definidas nas memórias descritivas incluem finalidades de reutilização vagas ou até altamente ofensivas do património classificado, e contemplam demolições generalizadas e largas dezenas de novas construções (e em altura), em todos os espaços adjacentes aos estritamente classificados. Essas construções desintegradas, contrariando as recomendações da UNESCO, sobrepoem-se, em volumetria e áreas de implantação, aos imóveis classificados, desvirtuando de modo acentuado a sua leitura e identidade, e mesmo impedindo o livre acesso de visitantes aos magníficos edifícios classificados ou a classificar, incluindo património azulejar e clínico de sítio, além de afetarem séria e irreversivelmente o sistema de vistas da extraordinária paisagem urbana de Lisboa, de enorme importância cultural e económica.
A título de exemplo, podemos referir, para os quatro Hospitais:
- Hospital de S. José: o projeto somente aponta para a cedência à CML do edififício principal classificado (continuador do Hospital de Todos-os-Santos, de 1492, cujo modelo renascentista de funcionamento se disseminou no país e além-mar, do Japão ao Brasil), sem apontar para a instalação de um Museu da Saúde, exibindo o acervo que tem sido recolhido e inventariado; os lotes cercam esse vasto edifício e, do lado poente, elevam-se três andares acima dele, adulterando a soberba vista desde o Castelo, e tapando o grande Torreão de Sant’Ana (de 1383) da muralha fernandina, monumento nacional.
- Hospital de Sta Marta: além de se construirem prédios em altura no declive da colina e na travessa, aqui prejudicando os moradores, o edifício conventual, com valiosíssima azulejaria, e Igreja, átrio e claustro belíssimos, e onde o nosso único Nobel da Medicina Egaz Moniz inventou a angiografia e a leucotomia, seria transformado em Hotel (?!), uma finalidade ofensiva deste património histórico-científico e arquitectónico-artístico;  a mais sustentável e lógica reutilização, nesse local de Lisboa onde circulam dezenas de milhares de turistas diariamente, será abrir o espaço aos visitantes e aí instalar um Museu (único na zona), dedicado a um dos muitos notáveis acervos ou temáticas sem divulgação (música, lusofonia, artes luso-asiáticas, etc)
- Hospital dos Capuchos: um pequeno núcleo do convento seria completamente cercado de construção nova, incluindo o pátio da cisterna e relógio quinhentista ao centro, também adulterado na sua bela proporção, com demolição integral dos edifícios e construção nova de maior volumetria e implantação; nada é definido sobre a reutilização das partes classificadas, e ao palácio Mello, com raríssima azulejaria barroca alusiva à música, é adossada nova construção, desfigurando-o.
Hospital Miguel Bombarda (único dos 4 hospitais com classificações em apreciação, e Museu aberto, com proposta de alargamento): para o primeiro e mais influente hospital psiquiátrico português, o projeto engana-se na zona especial de proteção (não de 50m mas que abrange todo o recinto hospitalar) dos edifícios classificados,  Balneário D. Maria II (1853) e Pavilhão de Segurança (1896); também oculta a Candidatura apresentada em Março de 2013 à Direção Geral do Património, para Classificação de diversos edifícios (com irrefutável Memória Justificativa), subscrita pelas prestigiadas Sociedades Portuguesas de Psiquiatria, de Neurologia, de Arte Terapia e de Arte Outsider, além da Congregação da Missão, e da Prof. Raquel Henriques da Silva e do Prof. Vítor Serrão.  
O projeto preconiza a demolição integral dos edifícios a classificar, de excepcional valor, entre eles o edifício das Enfermarias em “poste telefónico (1885-1894, primeiro do mundo), e as Enfermarias em U (1900, das primeiras em betão armado), e a instalação com demolição dos interiores, de um Hotel (?!), de fins lucrativos, na Casa-Mãe da Congregação da Missão, de S. Vicente de Paulo, uma ofensa à religiosidade, à história da assistência e à memória dos doentes, e onde, escandalosamente, ficará integrado o Balneário, considerado o melhor da Europa, e o gabinete onde o Prof. Miguel Bombarda foi assassinado em 1910; em erro grosseiro considera o edifício conventual como construído em grande parte após a fundação do hospital em 1848, ocultando a documentação e as plantas de 1835, que provam que este convento do séc. XVIII, não só foi dos poucos que resistiu ao terramoto, como conserva a maioria das fachadas e interiores originais.
Rejeita a finalidade proposta desde 2010 por ilustres personalidades, de alargamento do actual Museu para um Pólo Cultural de Arte de Doentes e de Neurociências, integrando raras e numerosas coleções de pintura de doentes e de autodidatas de todo o país, e o integral arquivo, único no país e raro em termos europeus, sustentável financeiramente e fomentador do turismo cultural, proposta que conta com o apoio e intercâmbio do Museu de L’Art Brut de Lausanne, o melhor e maior do mundo nesta categoria de arte.
Quanto a construções novas, este projeto atinge um terrível e perigoso delírio, com seis torres de 8/12 andares na zona mais alta da cidade, visíveis do Castelo, Graça e S. Pedro de Alcântara, e uma nova Rua com seis apertadas curvas, em desnível, passaria por baixo das torres, desde o Conde Redondo à Gomes Freire.
Agradecendo a atenção de Vossa Excelência para o solicitado Cancelamento Imediato,
somos, com os melhores cumprimentos
Lisboa, 22 Julho 2013
os abaixo-assinados, nas folhas seguintes

Com conhecimento a: Presidente da República, Primeiro Ministro, Ministro da Saúde, Troika, Presidente CML, media
Contactos e esclarecimentos – Comissão para a Salvaguarda do Património, reginacarr@hotmail.com, 933220913, 217585085