sábado, 4 de agosto de 2018

O Hospital D. Estefânia no passado dia 17 de Julho comemorou 141 anos ! Não permitamos que apaguem a sua historia e transformem Lisboa na única capital europeia sem Hospital Pediatrico !



A faixa comemorativa / informativa   afixada no  frontispício  do Hospital D. Estefânia
 e que qualquer Capital do mundo civilizado se orgulharia em ostentar , 
 foi retirada  !




Em seu lugar colocaram esta outra, que é na realidade  uma lápide "funerária" ...,  informando  da sua  descaracterização e  futura substituição pelo Hospital  generalista  que irá ser 
construido no Vale de Chelas  em regime de P.P.P. 
















"A SAÚDE DAS NOSSAS MÃES E CRIANÇAS É POR DEMAIS
 IMPORTANTE
PARA SER ENTREGUE  AOS GRUPOS DE SAÚDE PRIVADOS E AS  P.P.P.
 ( PARCERIAS PUBLICO PRIVADAS)










LISBOA NÃO PRESCINDE
DO SEU HOSPITAL PEDIÁTRICO !  



"LISBOA NÃO PODERÁ SER A PRIMEIRA CAPITAL DO MUNDO A ENCERRAR O SEU  HOSPITAL PEDIÁTRICO!"



O Hospital D. Estefânia no passado dia 17 de julho comemorou 141 anos !  Não podemos consentir o encerramento em curso  do Hospital Pediátrico de Lisboa!



 Poucas capitais do mundo se  podem  orgulhar em possuir  um hospital pediátrico prestigiado  , com quase  século e meio de existência . 

Fundado em  1877, sendo  um dos primeiros do mundo  a entrar em funções ,dele se pode dizer que cumpre o que é  hoje consensual  em todo o mundo civilizado; a necessidade  de existência de hospitais pediátricos, para que      um pais  possa afirmar  que dispõe de  uma   assistência  infanto-juvenil terciária de excelência.

Nesta linha de considerações pareceria absurdo e  inverosímil que o  governo  de qualquer  Pais   se empenhe na desativação do único hospital pediátrico  existente  na sua capital.

Aparentemente   inacreditável....mas   é o que acontece desde há 10  anos em Lisboa . E  o  que torna esta ação  mais desprestigiante para a democracia   é o facto  de  os responsáveis políticos  quando chegam a cargos governativos executivos calarem  e  esquecerem ;  mas  antes de ganharem as eleições não perderam  uma única oportunidade para  apregoar  inflamados discursos  elogiosos  ao nosso SNS....

Calam-se  pois estão  submissos  aos  poderosos   interesses dos grupos financeiros donos dos hospitais privados   que desde há trinta anos influenciam  e se fazem representar no Ministério  da Saúde.

 No que diz respeito ao Centro Hospitalar de Lisboa Central tudo indica   que na "divisão"  por áreas de influência   na área metropolitana  entre os diversos grupos a de  Lisboa Central tenha sido atribuída  ao grupo Mello Saúde, que já aí  tem em construção dois novos hospitais  (Nota 1)

O que menos abona sobre  a firmeza de  carácter  dos nossos  governantes, pois que  otensivamente ignoram as  várias moções que os seus próprios  partidos  votaram nas Assembleia de Republica  e Assembleia Municipal de Lisboa, em   que  se aprovou  por unanimidade a necessidade de  existência de um hospital pediátrico autónomo em Lisboa.

 Para uma melhor compreensão   dos nossos pontos de vista,  procederemos á  uma breve resenha da argumentação que temos publicado da  importância dos Hospitais Pediatricos.

È oportuno relembrar  o  documento publicado em  anexo,  elaborado em 2006  pela "Comissão Médica" em  representação  dos profissionais do Hospital de D. Estefânia que foi  endereçado  ao então Ministro da Saúde Prof. Correia de Campos  e cujos pressupostos técnicos  se mantém  actuais,
Ao  invés do que afirmam os  detratores daqueles que  defendem o hospital pediátrico de Lisboa,  os  argumentos  que alicerçam a nossa  ação  são  universais,  de ordem  humanista e civilizacional e  a consequência natural do  desenvolvimento e progresso  dos  conhecimentos  medico- científicos  nos últimos 150 anos

Este progresso  refletiu-se em todas áreas do saber medico relativos à Pediatria que segundo a OMS   integra  as idades  entre os 0 e 18 anos ,  período em  que os seres  humanos  ainda estão em  fase  maturação e  crescimento .

A criança não é um adulto pequeno e  a  psicofisiologia e  patologia infantis são  distintas das  do ser humano adulto. Estas características ímpares conduziram  à criação de  sub especialidades em todas as   áreas  médico-cirúrgicas  e  ao desenvolvimento de um  corpo profissional  e a equipas inteiramente vocacionadas para a  sua especificidade em todas as fases  deste processo   desde  o  atendimento, internamento,  exames complementares de diagnóstico,  tratamento e seguimento ambulatório.

  Os equipamentos de diagnóstico e tratamento  acompanharam esta evolução, sendo os atuais  (inclusive os mais especializados sofisticados e caros)  técnica e ergonomicamente   adaptados à pediatria.

A  arquitetura dos Hospitais  Pediatricos   é o suporte estrutural destas particularidades , sendo que todo o edificado e  todos os  circuitos se devem    harmonizar  de forma  holística  constituindo  assim o que  hoje se denomina a  existência do "Ambiente Pediátrico".

A  existência de hospitais pediatricos como centros de referência justifica-se nos  grandes centros urbanos , visto que para ai são referênciadas e  se concentram todas as patologias menos comuns,  o que permite que  se acumule  experiência no seu tratamento e  se justifique  economicamente  o capital humano e técnico investido.
Citemos entre outros  o exemplo dos transplantes hepáticos pediatricos que são agora realizados em Coimbra e que antes eram enviados para Espanha.
Sobre a criação da rede  de " Referênciação de cuidados Materno Infantis" em Portugal , haverá que estranhar   e indagar porque após a publicação do plano ,  de concreto nada se realizou. 

Cumpre  não esquecer que  os  hospitais Pediátricos  alem das  suas  funções terapêuticas  são os  centros de formação e  investigação , responsáveis pela criação de protocolos de atuação , ou  na organização de estágios  dos profissionais que irão trabalhar nas  outras instituições de saúde ligadas a pediatria da restante rede hospitalar.

Agregam  um grande  capital humano conquistado através do esforço e dedicação de gerações de profissionais e  que a Zona Sul de Portugal está em risco de desperdiçar.

Acresce-se que os custos de tratamento nos hospitais pediatricos são menores que nos hospitais de adultos.

Conclui-se que a  justificação dos Hospitais Pediatricos nos grandes centros populacionais é consensual,   como se  verifica  também pelo  facto de neste momento  estarem a ser  construídos duas  novas unidades  na Europa.   E quão prejudiciais  poderão ser as consequências da sua falta para a assistência  infantil.

A todos  estes pressupostos  alia-se a  um estratégico e ético  que é  incontornável :

A saúde das nossas mães e crianças é  por demais importante para depender da lógica do mercado e do lucro.

 Foi  este  consenso alargado,  baseado  na importância da  defesa   desta causa nobre,  que uniu personalidades com sensibilidades políticas, culturais e religiosas   díspares,  tendo-se  alcançado  um total 84 mil assinaturas . O 1ª  abaixo assinado foi  entregue ao  então Presidente da Republica Portuguesa , professor Aníbal Cavaco Silva,  e alem das  moções aprovadas por unanimidade mas ainda sem  qualquer  resultado pratico.

A integração  forçada do Hospital D. Estefânia,  no  futuro Hospital Generalista   de Lisboa Oriental  em 2008 ,  por iniciativa  do então Ministro da Saúde ,  Correia de Campos,  e contrariando a posição do corpo clínico,  conjugou os interesses imobiliários e especulativos  na apropriação do  edificado e terrenos dos antigos hospitais  de Lisboa ,  das  PPP( Parcerias Publico Privadas ) ávidas de auferir rendas avultadas, dos  grupos financeiros ligados aos Hospitais privados, da construção civil .

 Confirmando a influência do sector  privado na saúde  que sempre inquinou a reforma da rede hospitalar de Lisboa  Central, ficou  patente   no  facto de o gestor  escolhido para seleção dos projetos PPP para o futuro hospital,  nomeado pelo então Ministro da  Economia , Manuel Pinho, ter  exercido funções  até á data  no Grupo Mello Saúde .
 
A existência de um  hospital pediátrico , autónomo , em estreita relação com a maternidade,  integrados num campus hospitalar único como modernamente se defende e pratica , foi também  posta de parte pelos atuais gestores , alheios a tudo que não sejam números vazios de humanidade.

Em seu lugar  preparam-se  para nos impor  como anteriormente um  projeto arquitetónico  pré formatado , provavelmente  assinado por um gabinete de arquitetura internacional ,  comercializado  por alguma multinacional com representantes com nomes sonantes em Portugal.   Tudo se conjuga  a que a Parceria Publico Privada  possa auferir  rendas máximas  com custos mínimos,  tudo a  ser  pago com   o dinheiro dos nossos impostos.

Nesta ótica  a construção de um novo  hospital pediatrico ou reforma do atual não é considerada pelos responsáveis  pois os   novos hospitais privados  contam   antecipadamente  na sua carteira de rendimentos com os proveitos no tratamento das crianças de filhos  de pais da  classe média.

Caminhamos assim  num ritmo  acelerado  para a  criação de hospitais para ricos ou para os que podem pagar  seguros,  e outros,  os públicos ,   para os  pobres. 

As  diversas administrações do Centro Hospitalar de Lisboa Central, tem-se  comprometido , com mais ou menos determinação ,  em  maior ou menor  consonância  com este  projeto ideológico de indole  neoliberal  e limitando-se a  uma gestão corrente, para alem de uma ou outra  operação cosmética , tendo  assim  já conseguido  reduzir   o prestigio dos antigos  Hospitais Civis  de Lisboa  a  uma sombra do que  foram. Na realidade tratam-se de "comissões liquidátarias"

A chamada centralização  e integração da coordenação de  especialidades nos diversos hospitais    teve como resultado  destruição de muitos  Serviços de referência  e  salienta-se neste processo o  encerramento da Maternidade de Magalhães Godinho que satisfez   um desejo  imperativo  dos grupos privados.

Atente-se ao  que se esta a  passar no   Hospital dos Capuchos , que  presentemente se encontra em  estado de   desagregação  mais avançado  devido ao que se consta a  urgência de  concretizar os projetos para os condomínios de luxo previstos para o ultra valorizado  espaço físico que ocupa

A recente demissão dos Diretores de Serviço da Maternidade Alfredo da Costa  e do Hospital São José ,  com cuja luta  todos nos devíamos solidarizar, reflete a decrepitude desta gestão impotente e  fiel cumpridora de um  projeto  de índole estranha ao SNS

 Caso os Srs. Ministros, Secretários de Estado e administradores  alguma vez tivessem a coragem de proceder a  um inquérito publico e representativo  a opinião dos  os profissionais  sobre as vantagens do  processo de integração  receberiam por certo um  feedback  medíocre .

Recordamos que há alguns anos,  ainda não tínhamos atingido  a insustentável situação atual , quando a  Plataforma Cívica em Defesa do Hospital Pediátrico,  promoveu  que em votação publica  e organizado a por organismos independentes,  95% dos profissionais de saúde do Hospital D. Estefânia votaram pela autonomia do Hospital Pediátrico de Lisboa.


Concluímos  que os responsáveis pelo  Centro Hospitalar de Lisboa Central  ao terem  retirado a faixa comemorativa do centenário da  inauguração do Hospital D. Estefânia  ,  e substituída por outra  terá tido  como  objetivo de satisfazer os interesses das PPP que querem   fazer valer os seu projeto de hospital  generalista  e fazer esquecer os  Hospital Pediátrico de Lisboa . 
Esta ação irrealista  gerou justa  indignação entre a maioria dos  profissionais . 



Um dístico  propagandistico e sem  qualquer relação com a realidade vivida pelos profissionais
 e  o  mais grave que quer  fazer esquecer que o 
Hospital D. Estefânia , que é o berço da Pediatria Portuguesa. 
















Artigo de opinião de P. P M.A .M   - Médico Radiologista no HDE / CHLC
Agradecemos as ilustrações de I. G. B. e  a Manu ( menina que sabe ouvir e não tem medo de  agir)

Este texto e  desenhos podem e devem  ser copiados, divulgados e transcritos sem  citar a fonte , mas  na condição expressa  de não se omitir na sua divulgação  o  seus pressupostos essenciais  que são Defender  existência de um Hospital Pediátrico em Lisboa, e do  património do Hospital D. Estefânia  e por maioria de razão o  SNS .

 Nota:  Seguir-se-a postagem  sobre a nova Lei de Bases da Saúde  que esta  em discussão na Assembleia da Republica.


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Documento da Comissão Médica do Hospital D. Estefânia  enviado em 2006 ao Ministro da Saúde o  Professor  Correia de Campos



Hospital Dona Estefânia
Comissão Médica
R. Jacinta Marto 1169-045 Lisboa
Ministério da Saúde



Exmº Senhor Ministro da Saúde
Prof António Correia de Campos

Assunto: Posição dos médicos do Hospital de Dona Estefânia face às questões que lhes foram colocadas em 29 de Março por Sua Exª o Senhor Ministro da Saúde


Na intervenção pública de 29 de Março, afirmou Vossa Exª que, apesar de ter já pré-estudado um conjunto de projectos que incluíam o Hospital de Dona Estefânia, a sua concretização ficaria dependente das opções esclarecidas dos profissionais do Hospital, nomeadamente, a passagem a Entidade Pública Empresarial, a sua integração no Centro Hospitalar de Lisboa-Centro e a eventual inserção num futuro Hospital de Todos os Santos previsto para a próxima década.

Os médicos do Hospital de Dona Estefânia, conscientes das responsabilidades específicas que têm no contexto delineado pelo Senhor Ministro, representados pela sua Comissão Médica e ouvidos sectorialmente, quer nos serviços e unidades quer em reunião alargada de médicos realizada em 2 de Maio, decidiram enviar o presente documento que expressa o consenso unânime dos intervenientes (Actas 3 a 7 da Comissão Médica), o qual pretende responder às questões colocadas por Vossa Exª.

Os médicos conhecem a conjuntura financeira do País e os constrangimentos enunciados pelo Senhor Ministro da Saúde e estão também empenhados na mudança de processos que possa levar a uma maior racionalização da despesa sem prejuízo para os doentes ou para as expectativas básicas do desenvolvimento institucional e dos seus profissionais.

Os médicos do Hospital de Dona Estefânia manifestam-se no âmbito do que consideram ser o seu papel na promoção e protecção do mais elevado interesse público. No caso vertente, este é representado pelo compromisso ético e profissional com a contínua melhoria de cuidados prestados à criança e à mulher e a defesa dos direitos de acessibilidade, equidade e qualidade no atendimento que é legitimo esperar do Serviço Nacional de Saúde.

É importante relembrar que o Hospital de Dona Estefânia, construído num local doado pela Casa Real, é um dos primeiros Hospitais pediátricos na Europa, fundado em 1860 por acção da Rainha Dona Estefânia que se impressionou ao ver crianças tratadas em enfermarias de adultos no antigo Hospital de São José.
O Hospital de Dona Estefânia, actualmente com cerca de 230 camas, é um hospital pediátrico central especializado e de apoio perinatal diferenciado, com um departamento da mulher e da reprodução que inclui uma maternidade de referência e dá corpo ao conceito materno-infantil essencial à missão institucional.
Aqui nasceu a pediatria portuguesa e o ensino da pediatria. Dando continuidade a essa missão, o Hospital continua a ser um hospital com ensino universitário.
O Hospital de Dona Estefânia, como unidade materno-infantil polivalente, é diferente dos serviços de pediatria e dos serviços de obstetrícia inseridos em hospitais gerais. Aqui trabalham mais de três centenas de médicos especializados em praticamente todas as áreas da pediatria e da medicina da mulher, com a metodologia, a preparação, a sensibilidade e as tecnologias desenvolvidas especificamente para estes dois grupos de cidadãos. Aqui se formam e especializam centenas de profissionais nas áreas mais diferenciadas da pediatria e da medicina da mulher.
O Hospital continua a evoluir nas vertentes arquitectónica e funcional e atinge elevados níveis de modernidade e eficiência à medida que se reabilitam os seus espaços e equipamentos.
O Hospital está definitivamente marcado pelo seu ambiente pediátrico, resultado de décadas de aprendizagem numa relação exclusiva e dedicada à criança e ao seu mundo próprio. Aqui tudo tende a ser ajustado e reajustado às necessidades da criança e da família, intuitivo, natural, adequado e humanizado. A instituição adquiriu uma cultura específica e os seus profissionais têm um modo de estar diferente que é continuamente actualizado e transmitido de geração em geração.
O Hospital de Dona Estefânia é um equipamento de saúde que qualifica a cidade e o País e que tem visto reforçado o seu sentido no actual movimento de reconstrução de hospitais pediátricos na Europa e Estados Unidos e na consolidação dos centros materno-infantis numa procura de pólos de assistência mais diferenciada e especializada para doentes cada vez mais complexos ou com patologias emergentes.
O Hospital de Dona Estefânia está profundamente enraizado no subconsciente colectivo como um bem que pertence não só à região e aos seus habitantes, a que as famílias recorrem intuitivamente nos momentos de maior desespero, mas também ao País e a muitas gerações de mães e de doentes que foram crianças e hoje são adultos e idosos.
O Hospital de Dona Estefânia é uma referência cultural e histórica da Cidade e do País.

Assim:

1 – Em relação à questão da “passagem ao regime de Entidade Pública Empresarial”, tratando-se de um assunto de natureza conjuntural, da estrita deliberação política e administrativa do Governo e cujo regime está já definido no DL nº 233/2005 de 29 de Dezembro, os médicos consideram não dever pronunciar-se por a questão estar fora do seu âmbito de decisão.

2 – Quanto à questão de uma “eventual integração no Centro Hospitalar de Lisboa”, os médicos do Hospital de Dona Estefânia entendem que:

a) O Hospital de Dona Estefânia tem uma longa tradição de integração em estruturas de complementaridade, uma vez que faz parte do Grupo Hospitalar “ Hospitais Civis de Lisboa” desde a sua criação em 1913. A sua inclusão neste Grupo, tendo propiciado algumas vantagens, condicionou sérias vicissitudes, em especial nos últimos 20 anos, em grande parte pela natural dificuldade que o hospital de adultos sempre teve na assistência a crianças e grávidas.
A relativa exclusão a que o Grupo votou o Hospital de Dona Estefânia neste período recente, foi assumida como uma oportunidade de procura de outras alternativas consistentes de complementaridade e articulação. Essas alternativas envolveram, por um lado, outras instituições e, por outro, levaram o Hospital a desenvolver internamente soluções de maior diferenciação e especialização dos seus próprios profissionais o que, na área pediátrica, segue as tendências e as indicações das principais confederações europeias.
Progressivamente, o Hospital deixou de contar com a assistência por especialistas de adultos que tinham níveis de prática diversos na criança, para passar a privilegiar a assistência realizada por médicos com formação pediátrica de base e com competências específicas adquiridas através da formação complementar em áreas particulares ou de médicos com formação vertical que se dedicassem quase em exclusivo à criança e cujo acesso aos concursos de provimento requeriam já prova da experiência específica no grupo etário pediátrico. Esta é uma das mais valias que o Hospital pediátrico oferece às crianças que a ele acorrem e que passou a ser definidora dos cuidados especializados prestados.

b) A simples integração administrativa num centro hospitalar, que o Hospital globalmente rejeitou já em 2000 e os médicos continuam a rejeitar, acarreta evidentes prejuízos e riscos e só poderá ter alguns efeitos positivos, muito sectoriais, para a actual assistência aos doentes, se forem acautelados princípios básicos da assistência materno-infantil hospitalar.
Entre os aspectos negativos mais evidentes, refere-se: a redução do acesso da área da criança e da mulher ao centro de decisão que passa a estar muito mais afastado e envolvido nos problemas das múltiplas áreas de adultos; a redução da sensibilidade institucional aos problemas da criança e da mulher; a redução do investimento na diferenciação da área materno-infantil em relação ao todo constituído pelo hospital geral; o desaparecimento de um órgão de administração pediátrica autónoma local, considerado um factor extremamente negativo para estes hospitais; a redução da capacidade de atracção de mecenatos que, no mundo desenvolvido, é uma das formas principais de financiamento complementar dos hospitais materno-infantis e suporte compensatório das suas particulares condições de “facturação” segundo os moldes aplicados aos hospitais de adultos.

c) Uma reorganização meramente administrativa dos hospitais em questão seria incompreensível face aos custos que tal opção acarreta aos mais variados níveis. Não faria qualquer sentido que se associassem, formalmente, hospitais de adultos ao actual hospital materno-infantil e, na prática, continuassem a ser atendidas crianças nesses hospitais de adultos (Ex: Dermatologia, Cardiologia pediátrica, ORL, Estomatologia, Oftalmologia, etc.) numa co-utilização totalmente inadequada de salas de espera, atendimento técnico e enfermarias de internamento que já escandalizava a fundadora do Hospital no século XIX.
Os médicos do Hospital de Dona Estefânia reafirmam que o atendimento de todas as crianças no hospital materno-infantil é um princípio indispensável à credibilidade de qualquer reorganização global de um eventual centro hospitalar que pretenda desenvolver, modernizar e humanizar a sua prestação de cuidados.

d) Do mesmo modo, seria incompreensível a regressão aos tempos de há 30 anos no que respeita à diferenciação em muitos dos serviços de apoio à clínica, nomeadamente Patologia Clínica, Serviços Farmacêuticos e Imagiologia, hoje serviços bem diferenciados nas técnicas, procedimentos e dinâmicas utilizadas na medicina da criança. A eventual integração do Hospital de Dona Estefânia em qualquer outra estrutura administrativa ou regime jurídico nunca poderia subverter a condição diferenciada destes serviços pediátricos conseguida ao longo de muitos anos de formação especifica dos seus quadros, desbaratando-a num processo de “aproveitamento” de profissionais dedicados à medicina de adultos realizando técnicas de adultos, em espaços de adultos e com equipamentos de adultos.

e) Igualmente, não faz sentido que órgãos de aconselhamento técnico materno-infantil se dissolvam (Comissão Médica, Comissão de Ética, Comissão de Humanização, Comissão de Farmácia e Terapêutica, Comissão de Controlo de Infecção e Antibióticos, Comissão de Certificação de Interrupção da Gravidez, etc.) e, por exemplo, os problemas da criança, a que os serviços e profissionais de adultos são globalmente alheios ou menos informados, passem a ser discutidos e decididos em forae maioritariamente compostos por estas últimas estruturas e esses profissionais. Tal constituiria um forte prejuízo para os interesses da criança e da mulher e um retrocesso significativo na causa materno-infantil em Portugal.
Havendo ainda quem pense que um hospital pediátrico é composto apenas por pediatras (à semelhança de um serviço de pediatria de um hospital geral) e que as estruturas referidas de um centro hospitalar podem ter na sua composição um pediatra que assegure a respectiva representação, relembra-se que a realidade do Hospital de Dona Estefânia é a de mais de 30 especialidades, sub-especialidades e valências e muitas dezenas de consultas e núcleos especializados, dos quais a pediatria e os pediatras são apenas um dos elementos.

Em conclusão,só será de encarar a integração com todas as suas consequências e riscos, se esta for objecto de um protocolo de adesão ou afiliação que, entre outros, explicite:
- a salvaguarda de princípios fundamentais que, ainda assim, conduzam a ganhos compensatórios para a assistência aos doentes;
- a manutenção da diferenciação e autonomia técnico-assistencial do Hospital de Dona Estefânia na sua dimensão materno-infantil e com as suas unidades e profissionais diferenciados;
- a manutenção de um quadro de profissionais próprio do Hospital materno-infantil com a necessária especificação no quadro geral do centro hospitalar;
- a afirmação do Hospital como o elemento materno-infantil estruturante do centro hospitalar;
- a garantia da manutenção da sensibilidade e ambiente pediátrico próprios;
- a adequação da politica de atribuição de internos como factor determinante da continuidade do Hospital;
- a garantia de manutenção dos órgãos de gestão e apoio técnico local, nomeadamente as comissões técnicas próprias;
- a garantia da manutenção do apoio ao Hospital nas áreas de investigação;
- a manutenção da vertente de ensino universitário e pós-graduado como eixo de desenvolvimento fundamental do hospital e dos seus profissionais.

3 – Quanto ao “futuro Hospital de Todos os Santos”, programado para um tempo em que já actuaram e serão visíveis resultados de muitas das mudanças que afectam e afectarão a organização do nosso sistema de saúde, a posição actual dos médicos do Hospital de Dona Estefânia é consentânea com os princípios antes enunciados.
Esses princípios só serão cabalmente cumpridos se for adoptado um dos seguintes modelos: a) campus sanitário onde o Hospital de Dona Estefânia figure como elemento materno-infantil autónomo e articulado funcionalmente com o hospital de adultos;
b) alternativamente, através da reformulação progressiva do actual Hospital de Dona Estefânia no local onde sempre existiu e à custa dos terrenos ainda livres. Considera-se que, nesta localização, poderá integrar funcionalmente o campus do Hospital de Todos os Santos, tal como acontece em outras cidades.
Qualquer outra posição, com as informações disponíveis, seria certamente extemporânea.


Receba Vossa Exª os nossos melhores cumprimentos,


Lisboa, 3 de Maio de 2006

A Comissão Médica

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Existem alternativas ao projeto P.P.P.  de reorganização da rede Hospitalar de Lisboa Central ?

Como projeto alternativo a este descalabro mas em  acordo com  necessidade de renovar e melhorar o atendimento hospitalar da área de referência de Lisboa Central  e considerando o  facto de os Hospitais  que integram o CHLC  possuírem valências  que  fazem parte da rede de  referência da zona Sul ;  e   que apropriação do seu património  edificado  pelas imobiliárias  contribuirá para   uma descaracterização do centro histórico de Lisboa   e somando-se a todo este conjunto de argumentos ,   a circunstancia   os   terrenos do Parque da  Boa Vista em Chelas, onde se pretende   implantar o futuro Hospital  serem  os de  maior  risco sísmico da área Metropolitana de Lisboa

Propomos  em alternativa   :

A construção do no  Centro Hospitalar se localize  nos atuais terrenos do Hospital do Curry Cabral , que são  dotados  de bons acessos  relativos a todos os outros Hospitais de Lisboa e os  principais eixos viários .

Este projeto poderá se implementar  de forma faseada mas   contemplando  desde já o  espaço  construção para um novo hospital pediátrico autonómo  para Lisboa, embora   em estreitas relações com uma nova  maternidade e hospital de adultos. 

 Este  Centro Hospitalar  seria vocacionado  essencialmente para  as especialidades   medico cirúrgicas e responderia   as necessidades da   urgência metropolitana  da sua referencia e as  da Zona Sul do Pais 

Os antigos Hospitais Civis de Lisboa  permaneceriam em funcionalmente  e seriam a    sede   de   algumas  especialidades  medicas,   gabinetes  de consultas ,  cuidados continuados,  hospitais de dia ,  centros e  laboratórios de investigação , salas  aulas,   conferências,  bibliotecas  museologia   etc 

O Hospital D. Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa manteriam-se-iam  com as  atuais   funções   e como  centros de referência materno- infantil   até  que  a  construção  de  novo Centro Materno Infantil nos terrenos do atual Hospital Curry Cabral  se concretizasse  
Acolheriam depois  os Serviços acima  referidos. 

 Com esta  opção Lisboa não seria descaracterizada, mantendo-se em atividade  todas as circunstancias as suas instituições médicas centenárias  como  é  tradição  nos países cultos.
Simultaneamente  se   ganharia com a  funcionalidade e modernidade  de um novo centro Hospitalar . 

Assina : PPMAM


Nota 1- Para alem da notoria relação com a reoganização da rede Hospitalar de Lisboa Central acresce as  suas "estranhas  relações de cooperação"   com a Faculdade de Ciências Médicas  de Lisboa "  que passou agora  chamar-se  "NOVA Medical School "antiga |Faculdade de Ciências Médicas..?!!!!!  que como o CHLC esta a transformar-se  numa  fonte  de fornecimento  de mão de obra e conhecimento  qualificado para aquele grupo privado.   
Seria interessante excluir  eventuais conflitos de interesses de alguns participantes  nestas relações e  projectos .




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Vamos seguir este exemplo e salvar o Hospital Pediatrico de Lisboa ? quem dá o primeiro passo?

https://www.youtube.com/watch?v=2_uZ8AZfPTU