domingo, 3 de novembro de 2013

A REFORMA DA REDE HOSPITALAR DE LISBOA- TEM SIDO UM PROCESSO ISENTO ? !!!!



Domingo, 3 de Novembro de 2013



A REFORMA DA REDE HOSPITALAR  DE LISBOA – UM PROCESSO    CONTAMINADO  PELOS  INTERESSES DOS GRUPOS FINANCEIROS LIGADOS A SAÚDE,  CONSTRUÇÃO CIVIL E IMOBILIÁRIO ?!!!

                     "Obliti privatorum, publica curate"   "Esquecei os  vossos interesses privados  e  preocupai-vos com o bem público"

Introdução :      
 As considerações   que se seguem são o fruto das interrogações  de um percurso  iniciado há  cinco anos quando os profissionais de D. Estefânia foram confrontados   com a implementação da  “reforma “ da rede Hospitalar da Zona Sul  e  que  teve  como consequência  implícita na 1º fase  a  diluição do Hospital D. Estefânia  no Centro Hospitalar de Lisboa Central.  Antecipa-se assim de forma programada a  sua destruição  como o previsto para a  2ª fase  quando da  a sua transformação  em   um exíguo  Serviço de Pediatria no   futuro Hospital Generalista de Todos os Santos.
Por outras palavras, tudo se iniciou quando os gestores nomeados para funções no Ministério da Saúde (MS) mas  objectivamente representando   os interesses privados  na  saúde,  construção  civil e imobiliario,  optaram   pela via mais fácil  de destruir   Hospital Pediátrico Lisboa o qual não fora inicialmente incluído no Centro Hospitalar de Lisboa Central.
Referimo-nos ao Hospital D. Estefânia, mas falaríamos com igual propriedade do que sentem os profissionais da Maternidade Alfredo da Costa, Hospital Pulido Valente, entre outros .
Corria o ano de 2008  quando António  Correia de Campos dá inicio a implementação da última fase do  projecto  de reorganização da rede hospitalar da zona Sul
 Para que melhor seja compreendida a situação   é necessário entender
estes acontecimentos como  o resultado de  dois vectores causais  distintos em que último  é o  determinante.
São eles :
1-A necessidade de  reorganizar  e reformar  a rede  de  Hospitalar de Lisboa.
2-A  ideologia com forte influência dos interesses económicos aplicada pelos agentes  políticos à reforma da  rede hospitalar.

Alguns dos pressupostos que justificam  a necessidade de   reorganizar  e reformar  a rede  de  Hospitalar de Lisboa
  
As  reformas em curso foram justificadas devido a múltiplos factores entre os quais salientamos:

1º - A desadaptação  estrutural e os custos  elevados de manutenção  e dificuldade de acesso  que exigem obras sucessivas em   conventos  medievais localizados no Centro Histórico,  na  proximidade  do antigo H. T. S, e  que o vieram a substituir  em regime de urgência   quando da sua completa destruição   pelo terramoto de 1755 (  Hospital de São José, Capuchos e Desterro).

 2º - As dificuldades de acesso e a dispersão geográfica  dos outros Hospitais (D. Estefânia, Curry Cabral , Maternidade Alfredo da Costa, Pulido Valente e Júlio de Matos) .Estes hospitais  tem uma especificidade  própria e  foram construídos  de raiz entre os séculos XIX e XX,  como centros de cuidados   dedicados a áreas clínicas  especificas e em se tornaram  prestigiados polos  de referência  para o Sul do Pais.
Sublinhamos de que são esta especificidade e excelência  que caracterizam e justificam os hospitais terciários dos grandes centros urbanos e que consideramos  não ter sido tomada em conta ou  respeitada pelos mentores da  actual reforma.

3 - A necessidade da  racionalização da oferta de camas de cuidados  hospitalares diferenciados na área sul da Pais que se tornou  excedentária com a conclusão da 1ª fase  do plano de reorganização da rede hospitalar .Como se poder  ler no  “Plano  de acções prioritarias para o reordenamento das capacidades Hospitalares de Lisboa – versão  2006” (PAPRCH de Lx 2006, a disposição na NET  e que é consequência da   entrada em funcionamento dos novos  Hospitais de Cascais e de Vila Franca de Xira e a reorganização hospitalar da Margem Sul do Tejo ,   Hospital de Loures e finalmente o do Hospital de Todos os Santos,

Consideramos  contudo que este  processo  de reordenamento encontrou os seus objectivos  inquinados por  ter sido dominado  lógica de mera  distribuição de camas  tendo em conta a apropriação  mercantil  de utentes do Serviço Publico pelos  grupos privados  e que  se  sobrepôs   ao  seu  planeamento em função das especialização de nível terciário que caracterizam os grandes centros populacionais.  Como exemplo desta visão restrita e interesseira, pode ler-se naquele documento, de que a Maternidade Alfredo da Costa  e o Pulido Valente serão  absorvidos  pelo Hospital de Loures  e ou o Curry Cabral e o Hospital D. Estefânia  pelo Hospital de Todos os Santos como  se de meros Serviços de Obstetrícia  ou de Pediatria se tratassem e não de centros de referencia prestigiados  em  áreas especificas,  sobre o que  o nada se informou ou publicou .

  “”A  substituição e concentração deste conjunto de Hospitais, num  novo construído de Raiz  (HTS),  o que permitirá  economia  uma economia de escala .
Antes de continuarmos, e de forma aparentemente extemporânea, mas intimamente relacionada com esta alínea reporto-me  a um estudo que teria sido realizado há mais de 30 anos  que teria sido encomendado a  técnicos  suecos  e  de que  tomei conhecimento apenas verbal, quando  ainda decorria o meu internato completar de Radiologia  no Hospital de Curry Cabral .
 Dizia então o  meu antigo   Director de Serviço , o Dr. Américo Silva Prates    que o documento concluía de  que o único Hospital  do grupo dos  antigos Hospitais Civis de Lisboa que poderia  sobreviver a esta  remodelação e teria   condições de continuar a sua actividade assistencial  por dispor de  acessos e espaço  físico  seria  o de Curry Cabral. 
Cito estas memorias  pois  será licito indagar  se não seria mais sensato  inclusive  para  cidade de Lisboa a construção do novo Centro Hospitalar no espaço do actual Curry Cabral , ou outro local  desde que na aréa de Lisboa central ,   do que em Chelas ,  que tem os óbices de  localizar-se numa   área  de alto risco sísmico, ao lado de um  Aeroporto  e   que  alem do mais é periférica .
Recordamos que em muitas capitais Europeias opta-se pela recuperação dos antigos Hospitais preservando o seu envolvimento urbano histórico  e  assim os referenciais  de cultura e identidade e laços  que fortalecem as comunidades e os povos. 
Sôbre o impacto urbano na cidade de Lisboa da previsivel desactivação daquelas unidades hospitalares o Plano de Ações prioritárias (PAPRCH de Lx 2006 )  é vago e parco e  lê-se  da pagina  6 :
 “Ao nível da malha urbana da região, o processo gerará oportunidades importantes para a requalificação urbana da cidade de Lisboa face às novas tendências de implantação geográfica da população” .
Presumindo que este palavreados se refira aos projectos imobiliários que   tentaram fazer aprovar  pela Assembleia Municipal em período de férias procurando os seus autores  esquivar à discussão publica e como se Lisboa fosse propriedade sua.


6º A estes argumentos  veio  a juntar-se  um outro criado artificialmente   e portanto falso  e que resultou da  venda  daquele  património imobiliario hospitalar  de pertença colectiva a Sagestamo   Tratou-se -se aqui de um processo de engenharia financeira em que os partidos do arco do poder legalizaram a  expropriação compulsiva de bens públicos e ainda obrigam os contribuintes ao  pagamento de uma renda, onerando  assim os orçamentos hospitalares e com que justificam a sua pressa na construção do HTS.   Esta “pressa” terá igualmente a ver com a pressão da especulação imobiliária sequiosa em apropriar-se do património da Colina de Santana.
A opção tomada quer quanto ao tipo e filosofia de construção, quer quanto a  sua localização não foi publicamente fundamentada e independente da sua validade,  pensamos que contribuirá  para esvaziar de Lisboa  de  Serviços essenciais imprescindíveis para que se  mantenha  vida urbana   e assim o prestigio da  capital do Pais transformando-a num mero dormitório.
Devemos exigir que apresentem os estudos citados no documento da "Comissão Técnica Interdepartamental para o Reordenamento das Capacidades Hospitalares da Cidade de Lisboa"  que fundamentem  não apenas a localização escolhida mas   opção funcional  e o projecto arquitectónico  em que se  configura um mega hospital generalista  tecnológico  com filosofia de exploração privada  (ao invés de um Centro Hospitalar com um edificado  materno infantil  diferenciado  física e administrativamente que  incluiriam  o  Hospital D. Estefânia e a Maternidade Alfredo da Costa  como é a pratica mundial) 


Conclusão :

A reorganização   da rede hospitalar é um projecto já antigo e justificado mas não teve  como substrato uma avaliação aberta e multi disciplinar com o contributo da sociedade civil e admitimos até prova em contrário  que os  seus pressupostos foram adulterados  pelos interesses privados que  assenhoraram-se da direcção do processo.

A  ideologia e interesses económicos dos agentes   responsáveis pelas políticas de saúde  e a  orientação  que decidiram e aplicar na reforma da  rede hospitalar

Como em quase todas as  outras  decisões estratégicas sobre o nosso futuro como comunidade foram tomadas  por “elites” ligadas  aos  partidos do arco do poder,  também a da reforma da  rede hospitalar   foi nos seus pressupostos essenciais subtraída  ao escrutínio democrático .
Para muitos o ano de 1990 é considerado o ano decisivo no SNS Português com sua regulação por dois diplomas fundamentais : A Lei de Bases da Saúde ( Lei nº48-90 de 24 da Agosto e o Estatuto do SNS (Lei nº 22-23, de 15 de Janeiro). Este articulado veio a criar os pressupostos da desarticulação do SNS e sua mercantilização e privatização .
Foi na sua sequência que  1º Ministro do XII Governo Constitucional , o Prof. Aníbal  Cavaco Silva  inaugurou  esta nova época quando em 1995 nomeou como Ministro da Saúde  o gestor Arlindo de Carvalho  ( agora indiciado no caso BPN)  e  em que se  entregou  a Gestão do Hospital Amadora Sintra a um grupo privado (Mello) .  Os Governos que se seguiram de Guterres, Durão Barroso e Sócrates respectivamente por intermédio  dos Ministros Correia de Campos e Luís Filipe Pereira através da legislação e planos  que elaboraram  ("Saúde, um compromisso – a Estratégia de Saúde para o virar do século (1998-2002)   Plano Nacional de Saúde  de 2004-2012) vieram dar- lhe substrato pro gramático para a sua implementação.
 Estes planos apresentam pressupostos aparentemente genéricos e inocentes mas cuja  matriz  ideológica reflectem e são continuidade das tomadas de posição  por Arlindo de Carvalho no Governo de Cavaco Silva.

São estes os novos pressupostos:
-“Mudança centrada no cidadão” que é em abstrato um conceito válido mas que neste documento parece  legitimar  a primazia absoluta do   direito  individual sob o colectivo.  Justificam esta sua opção sob a capa da  ” liberdade de escolha”
A “escolha” aqui  tem o significado de opção pelos Serviços Hospitalares Privados  em igualdade de circunstâncias com os públicos, sendo  ambos financiados pelo erário publico . Esta utopia apesar de desejável só seria possível se os recursos públicos fossem ilimitados, mas como não o são , estes  devem ser geridos de forma a beneficiar a comunidade no seu conjunto  e não apenas  algumas áreas e sectores. Note-se que é obviamente que o sector privado tem um papel a cumprir no SNS Finalmente alertamos que  a  apropriação do " conceito de cidadão " neste contexto é indevida e abusiva pois pela própria definição este contrapõem-se ao do individuo egoísta que coloca os seus interesses acima de toda a comunidade.

-A separação radical entre as funções do “Estado  como   prestador  de cuidados”   e o  “Estado financiador destes cuidados” ,  alargam-se  aqui desmesuradamente as portas da contratualização externa, muito  para alem do que  necessário e  aceitável  de forma a permitir a gestão privada dos Hospitais Públicos  com o  seu  financiamento  pelo Estado pondo em causa a equidade do sistema como um todo.

-O argumento de a gestão empresarial ser eficaz em contraposição com a publica que é ineficaz”  e  que teve como corolário  transformação dos Hospitais em Entidades Publico Empresariais (EPE) e Sociedades Anónimas  (SA) perspectivando-se assim uma logica  transição para a sua privatização.
È um mito pois a gestão publica poder ser eficaz ( vide Hospital São João do Porto e Santa Maria em Lisboa ) e a  privada ruinosa  ( vide o sucedido no Amadora Sintra) para tal entre outros  é preciso que esta não seja apropriada por interesses particulares e partidários. 

 Da opacidade e formalismo de todo este processo, resultou  de que  a informação  veiculada neste texto   é  dedutiva  e interpretativa e assim com cariz e cunho pessoal.  Fundamenta-se nas publicações oficiais esporádicas  divulgadas na Google e nomeadamente nos Diários da República e no Site do Ministério da Saúde.
Nas alíneas que se seguem analisaremos com mais pormenor e de forma faseada as diversas etapas deste processo  até aos dias de hoje.

Hospital Fernando da Fonseca – Amadora Sintra a  1ª gestão privada  de uma unidade Hospitar  - O paradigma dos riscos das PPP.
Dedicaremos um  espaço  mais alargado  ao sucedido no Hospital Amadora Sintra / Fernando da Fonseca ,  pois  este constitui um exemplo vivo  dos riscos e prejuízos  que comporta  actual politica institucionalizada de privatização do Serviço Publico de Saúde . .
Em relação aos estudos recentes, e que estão em plena execução,  planeados  e aplicados nos últimos 15 anos   haverá que estabelecer  o ano 1995 como   um marco de transição no paradigma  das politicas de Saúde e que veio a influencia-los de uma forma definitiva.
Este marco coincide com XII governo Constitucional quando o   Primeiro-Ministro Cavaco Silva  em Julho de 1995, assina a minuta do contrato de gestão do H. Fernando da Fonseca concretizando  a entrega da gestão clínica de um Hospital Publico a um grupo privado.
Chama-se a atenção que Portugal é uma excepção neste domínio, pois  as PPP nos diversos países resumem-se ao edificado e hotelaria.
Recordemos sucintamente de  que o  Hospital Fernando da Fonseca (Amadora Sintra)  foi lançado em 1991 pelo Governo de Cavaco Silva, tendo com Ministro da Saúde, Arlindo de Carvalho e através de um concurso internacional de “concepção, projecto e construção”, incluindo o fornecimento de todo o equipamento médico-cirúrgico, adjudicado à construtora portuguesa Teixeira Duarte. Em 1994 e ao abrigo das alterações ao quadro legal, nova Lei de Bases de Saúde de 90, decreto-lei DL nº 11/93, portaria 704/94, que permitiam ao Governo passar a contratar serviços com privados, o Ministro  abriu em Setembro de 1994 o concurso público para a gestão do HFF, e que foi adjudicado ao Consórcio Mellos /ANF/HLC/GSI, em tempo recorde no decurso Julho de 1995, assinado em Outubro de 1995, dois meses antes de expirar o seu mandato.
Institucionalizou-se neste  governo um novo  paradigma em que o Estado deixa de ser  o  responsável  e principal garante   pela criação e  organização e prestação dos  cuidados de saúde , transformando-se a partir de então em  financiador  de instituições privadas que surgem como intermediarias comerciais  entre o Estado e os  utentes.
A fórmula contratual  encontrada para este declinar de responsabildades e  cedência  consuma-se na  “Parcerias Publico Privadas.” (PPP). Esta fórmula de origem neoliberal deu os seus primeiros passos pelas mão da Sra.  Tatcher   em Inglaterra.
Em Portugal, “inovou-se” e alargou-se o conceito  estendendo  a PPP a gestão clínica com os resultados deploráveis que se  conhecem.
Num pais em que o estado é fraco, e está desprovido de organizações reguladoras eficazes e a sociedade civil pouco organizada, as PPP, na sua lógica intrínseca do lucro máximo, transformam-se facilmente em parasitas do erário publico. Já nesta primeira experiência no Amadora Sintra, constituiu uma prova de que a defesa do interesse publico não foi acautelada no contrato em que se   estipulou que em caso de diferendo  as partes só poderiam  recorrer  um tribunal arbitral desistindo de qualquer processo nos tribunais civis . 
Esta clausula contratual  armadilhada dizem que lesou os contribuintes   em 75 milhões de euros  devido a  sobre facturação de  exames e consultas  não realizados,  isto porque o referido tribunal veio a  absolver os eventuais infractores. Todo o processo sugere contornos mafiosos incluindo a chantagem aos funcionários do MS que denunciaram as eventuais irregularidades e a quem intimidaram ( incluía-se neste grupo de acusados  Ana Jorge). Afirma-se que António Correia de Campos não só  apoiou o  grupo privado  mas inclusivamente negou  apoio jurídico aos seus colegas de Ministério tornando claro a sua ideologia e grupo de interesses a que estava ligado..

O  Bastonário da Ordem dos Advogados,  Marinho Pinto  denunciou  esta  estratégia ao  declarar que: “Os Tribunais Arbitrais foram criados  apenas para legitimar a corrupção”
Em 2008 , decorridos 15 anos do inicio da gestão do Grupo Mello já   no 2º governo do Eng. José Sócrates  em  Correia de Campos fora substituído  por Ana Jorge os atropelos na Gestão do Amadora Sintra  vieram a luz do dia e  obrigaram a  uma mudança de posição do PS  de José Socrates  e que  rasgo de lucidez, excluiu  a gestão clinica dos hospitais do âmbito das PPP , limitando-a apenas a construção e hotelaria.
Argumentou então na Assembleia da Republica como justificação das  sua decisão que :
 “os eventuais  ganhos do Estado com a gestão clinica privada  não compensariam os gastos administrativos  para acautelar que  eventuais  desvios.”
Chamamos aqui mais um vez a atenção ainda  atenção  ainda que os contratos das PPP continuam a não ser  divulgados e  estão fora do controlo dos contribuintes que os financiam.
 Será ainda Interessante ainda avaliar o perfil das relações político privadas dos principais intervenientes no processo.
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Cita-se  como  exemplo o percurso do   Engenheiro Pedro Dias Alves  que  exercendo funções no XII governo do Professor Cavaco Silva  foi o gestor pelo Grupo Mello no  Hospital Fernando da Fonseca- Amadora Sintra   e finalmente foi  nomeado por Manuel Pinho, Ministro da Economia  de Sócrates, para a organização do concurso da PPP do futuro HTS.  

Este novo paradigma  depois de Institucionalizado  pelo PSD de Cavaco Silva,  foi implementado  pelos outros  governos do PS em que Correia de Campos foi o Ministro da Saúde.
A Privatização do Serviço Nacional de Saúde – Os actores e interesses económicos em jogo.
 No 2º de Governo de António Guterres a  aplicação e aprofundamento  desta politica  esteve a cargo  de António   Correia de Campos. Sobre este Ministro da Saúde ,  haverá que indagar se o seu pensamento não terá a ver com o que aprendeu no  Banco Mundial onde exerceu funções e  como convive partidariamente com Antonio Arnaut.  Uma das explicações será  a da camuflagem dentro dos Partidos do arco do poder  da linha neoliberal, a  outra é a  disparidade entre as promessas eleitorais  e as politicas reais que  são também uma prática comum dentro dos partidos em que a maioria dos  militantes  permanece  ignorante sobre a estratégia real dos seus lideres, ou ainda mais provavelmente as duas...
Seguiu-se   ao Eng. António  Guterres, o Ministro  Durão Barroso  que nomeou como Ministro da Saúde Luís Filipe Pereira,  que exerceu funções de  gestor do Grupo Mello .
Julgamos que nas democracias ocidentais  não existirá outro exemplo  de  um 1º Ministro entregar os ministérios a indivíduos com relações próximas com  os grupos privados  e em possível aberto  conflito de  interesses com o interesse público na referida pasta  Seria o mesmo que nomear para Ministro da Defesa  um membro do conselho de administração de uma fabrica de armamento
Com a destituição de  Santana Lopes que havia substituido Durão Barroso quando este vais para Bruxelas,   retorna à cena   António Correia de Campos agora pela mão  do 1º Ministro José Sócrates. 
Haverá aqui que fazer um parêntesis e um apontamento sobre António F. Correia de Campos.  Ele foi um dos ideólogos, organizador de todo o processo e provavelmente  o  pivô no acordo entre o PSD e CDS  na elaboração teórico estratégica para  desarticulação  neoliberal do SNS . " A Estrutura de Missão Parceria Saúde" de sua iniciativa foi é o organismo que a tem concretizado. 
Para que não restem  duvida sobre  a  comunhão de interesses e de agenda  no bloco central, cita-se  o que escreveu Jorge Abreu Simões que  chefiou “Estrutura de  Missão Parcerias Saúde”  acima referida,  para orientar a reforma Hospitalar.  Num texto sobre as PPP na saúde em Portugal,  publicado no Jornal  Noticias Médicas.

“Neste contexto, perante o reconhecido défice de implementação de medidas robustas de reforma, com a realização das eleições legislativas de 2002, em matéria de política pública de saúde, assistiu-se à convergência dos programas políticos dos três principais partidos com representação parlamentar”. 

Todo este processo se desenvolveu   e  se consolidou com  a criação concomitante de um articulado legislativo  bem estruturado  ao longo das   diversas legislaturas  entre o PS e o PSD .
Articulado legislativo que viabilizou a  apropriação privada  dos hospitais  do SNS  e   do património imobiliário de pertença da cidade de Lisboa
- Em Setembro de 2000 é criado através do DL 209/2000 a PARPUBLICA e a SAGESTAMO, Empresas de natureza dúbia público-privada  e   que  os diferentes governos e coligações, têm se utilizado para   vender o património publico sem qualquer escrutínio, como por exemplo o edificado dos antigos Hospitais Civis de Lisboa (HCL). Esta prevista a desarticulação desta pseudo empresa em 2013 com fim das privatizações e a culpa morrerá solteira.
Em Abril de 2003 através do DL 86/2003 sob o governo de Durão Barroso, estabelecem-se as normas gerais das parcerias público - privadas  (  P.P.P)
Três meses mais tarde, à  25 de Julho, pelo despacho normativo 35/2003, “Atribui-se à PARPUBLICA a incumbência de prestação de apoio técnico ao Ministro das Finanças no contexto dos procedimentos de definição, concepção, preparação, concurso, adjudicação, alteração e acompanhamento global das parcerias Público - Privadas”
Através da Parpublica e Sagestamo  criou-se assim um articulado legal e estrutural com vista à   alienação do património imobiliário de pertença  comum  aos   grupos privados  e à especulação  e  relacionando-os com os contractos das PPP na Saúde.
A última fase na implementação das PPP dos Hospitais da Zona Sul, o concurso do futuro  Hospital  de Todos os Santos 
As  actuais parcerias público - privadas (PPP) na área da saúde foram inicialmente anunciadas em 2001, num projecto que  numa  primeira fase previa a construção de 10 novos hospitais, alguns de substituição, outros a construir de raiz.
Numa primeira vaga seriam construídos o Hospital de Cascais, Braga, Loures, Vila Franca de Xira e posteriormente os Hospitais de Lisboa Oriental, Faro, Seixal, Évora, Vila Nova de Gaia e Povos do Varzim/Vila do Conde.
O  planeamento para a  criação desta novas unidades  hospitalares  incluía a atribuição de concessões a grupos privados para a construção e manutenção dos novos edifícios e para a gestão clínica das novas unidades, divididas em  duas concessões distintas, em alguns casos à mesma entidade privada.
Com a construção e entrada em funcionamento das novas unidades hospitalares  iniciou-se a segunda fase  que nos diz intimamente  respeito pois refere-se  a concurso  das PPP para construção do Hospital de Todos os Santos
Esta última fase e que vivenciamos encontra-se e descrita  em pormenor em num  documento  disponível no Portal da Saúde  com o titulo  Plano de Ações prioritárias  (PAPRCH de Lx 2006 ) 

 Este documento é claro  relativamente  ao ambito da PPP  a estabelecer relativamente ao HTS, como pode-se  ler  na sua  pagina 10:

“O modelo PPP adoptado para os concursos em curso prevê a contratação de serviços clínicos ao operador privado durante um período de 10 anos, pelo que os desvios de procura de cuidados terão que ser antecipados e planeados ainda durante as respectivas fases de concurso.” 

Assumindo-se assim neste documento  como dado adquirido  que  "a Gestão Clinica  do  HTS  seria  privada "  permanecendo contudo em outros trechos como uma formula por  decidir.

 Tudo se conjuga no sentido que este foi o modelo de PPP que veio a orientar subsequentemente o Plano Funcional  de autoria da Multinacional  Intersalus   que veio a discussão publica.
Este concurso como acima se assinalou-se foi inicialmente conduzido e orientado pelos Engenheiros Gestores Pedro Dias Alves e João Weimans. Os estudos que os sustentaram e  aspectos processuais da escolha nunca foram justificados ou divulgados publicamente. 
Tudo indica, até prova em contrário  que se assumiu  implicitamente de que a PPP incluía a gestão clínica . Se assim for o Plano Funcional e projecto de arquitectura são  ilegais pois não respeitaram  a decisão governamental que excluiu a gestão clínica das PPP(s) das novas construções hospitalares  e em que  incluo o futuro HTS.
O “Plano Funcional do HTS” que esteve em discussão publica  com chancela da multinacional  Intersalus  e depois  foi publicado no Site do Ministério da Saúde  apenas com o “ carimbo de provisório “  confirma  esta analise  pois  em toda a sua concepção corresponde a  de um Hospital Generalista  com gestão privada  e  que se caracteriza pela organização de espaços multifuncionais em todas as especialidades médicas  transversais, sem  qualquer preocupação com mistura grupos etários alias como agora já se esta a implementar . Assume igualmente a des diferenciação  do quadro profissional  e de equipamentos  com vista a rentabilização e o lucro máximo. Esta desdiferenciação é de todo incompatível com as características de Hospital Terciário com seria suposto vir a ser.
Sublinhamos fiinalmente de que o Plano de Ações prioritárias  (PAPRCH de Lx 2006    não integra o Hospital D. Estefânia Centro Hospitalar da Zona Central  e assim  a leviandade com que a decisão de sua extinção foi tomada  em ultima hora por  António Correia de Campos ,como abaixo  se pode ler e e fazemos prova:
“Criação do Centro Hospitalar de Lisboa (Zona Central). Pela Portaria nº115- A/2004, de 30 de Janeiro foi criado o Centro Hospitalar de Lisboa (Zona Central), enquanto pessoa colectiva de direito público dotada de autonomia administrativa e financeira e património próprio, integrando três unidades hospitalares: o Hospital de São José, o Hospital de Santo António dos Capuchos e o Hospital do Desterro.” .e em que .em não consta o Hospital D. Estefânia .
Explica-se assim o porque no Plano Funcional que veio a públlico a especificidade pediatrica resumiu-se a um mero "anexo" introduzido à ultima hora e que   apenas foi  devido à nossa  insistente denuncia.
Como fim deste triste capitulo do ainda não nascido Hospital de Todos os Santos,   refere-se  a anulação do actual concurso por Paulo Macedo do HTS em que se argumenta com  da existência de  “erros processuais”  e de “ do  prejuízo  do interesse publico “!!!!!???.
  Para a sua reformulação foi designado pelo Ministro da Saúde,  Paulo Macedo ,  outra vez já nosso conhecido , Dr.  Filipe Luis Pereira  ( o ex gestor do grupo Mello, que foi Ministro da Saúde de Durão Barroso).  Enfim todo este processo esta confinado à um grupo de amigos  com solidas raízes .....
.  Estamos convencidos que a anulação do concurso, alias como também já se havia sucedido no Hospital de Loures não teve a ver com o interesse publico como apregoam , mas é apenas o resultado  da luta feroz nos bastidores  entre os grupos privados  para assenhorarem-se  da verba de 300 milhões de euros a juros residuais adjudicada pelo  do Banco de Investimento Europeu  para a construção do novo Hospital . Agradecemos que façam prova documental em contrário. 
 Como tem sido a norma  também este processo de contestação ao concurso se  passou se apenas  na sombra dos gabinetes ....mas  deve-se exigir  que  seja também  tornado publico.
Conclusão :
Sem a equação do problema, o conhecimento dos actores em cena, os seus interesses  e a  sua estratégia  não é possível desenhar um  plano de acção.
Procurou-se dar um pequeno contributo para que possamos defender o interesse público numa estratégia independente. Reiteramos ainda que estamos abertos às criticas e correcções e que publicamente corrigiremos os erros de interpretação.
 Pensamos  serem ideias consensuais a  encaminhar  ao poder politico:

1-Exigir que todos os estudos que justificaram as opções tomadas,  processo de selecção concurso , contractos assinados, adjudicações directas do HTS e razões para sua anulação venham a publico na integra para que  seja reapreciado  com intervenção activa dos profissionais  de forma a readequa-lo às aspirações  e necessidades da População da Zona Sul do Pais .
2-Que todo o edificado dos antigos Hospitais de Lisboa  permaneça na esfera  publica  e que os projectos imobiliários em curso sejam  suspensos para que sejam  reapreciados à luz da defesa do Património Cultural e Histórico da Cidade de Lisboa e também na  reorganização da rede de Serviços de Saúde e da cidade de  Lisboa numa óptica de Serviço Publico e não do interesse dos grupos económicos ligados a saúde.

"Obliti privatorum, publica curate"   "Esquecei os  vossos interesses privados  e  preocupai-vos com o bem público"

Frase Inscrita  no Palácio do Príncipe em  Dubrovnik na Croacia   e que consta como regra de  orientação aos detentores de cargos poliicos numa das alíneas do articulado que O COMITÉ DAS REGIÕES  DA UNIÃO EUROPEIA  2012/C 391/14  e  que devia ser obrigatório os nossos politicos subscreverem,  mas  aqui  que destacamos  apenas esta:
"Parecer do Comité das Regiões Europeias  sobre o pacote sobre a proteção da economia legal "
 encorajar os eleitos locais a assinarem no início do mandato uma carta deontológica intitulada Obliti privatorum, publica curate (esqueça os assuntos privados, ocupe-se dos assuntos públicos) que contribuirá para selar e manterem elo de confiança entre os cidadãos e aqueles que os governam........


Este texto veicula exclusivamente  a  opinião pessoal de PEDRO PAULO MACHADO ALVES MENDES - MÉDICO RADIOLOGISTA NO CHLC – POLO D. ESTEFÂNIA - OUTUBRO DE 2013



http://campanhapelohde.blogspot.pt/



Entretanto  tivemos acesso a este artigo de opinião  sôbre o  Hospital Pulido Valente. Para alem de tudo traz informação histórica relevante e  é também por isto o publicamos

Artigo de opinião da Dra.  Elsa Jara



Assunto: Destruição de Grandes Hospitais em Lisboa

 Encerramento planeado do Hospital Pulido Valente e de mais seis Hospitais na cidade de Lisboa
O Hospital Pulido Valente está integrado no Centro Hospitalar Lisboa Norte (designação recente do conjunto dos Hospitais de Santa Maria e Pulido Valente).
 A notícia que apareceu em vários órgãos de comunicação social no passado dia 12 de junho, da “dívida do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) de cerca de 300 milhões de euros”, a que se acrescentava a referência de que “ a partir de 2015 o Hospital Pulido Valente poderá deixar de ter atividade clínica” e portanto o seu fim como Hospital, foi a razão que me levou a escrever este artigo.
O Hospital Pulido Valente era inicialmente o Sanatório D. Carlos I, construído há mais de 100 anos, num Parque Arbóreo muito extenso, doado para que nele se instalassem exclusivamente edifícios para a área da Saúde. Aqui foram construídos o Instituto Ricardo Jorge, a Escola Nacional de Saúde Pública e o Centro de Paralisia Cerebral, com a consequente divisão do referido Parque. Já dentro do remanescente referido Parque Arbóreo ocupado pelo Hospital Pulido Valente foram ainda construídos o Centro de Histocompatibilidade e o Edifício da Faculdade de Medicina da Universidade Nova.
 Há poucos anos foram construídos de raiz, reconstruídos ou totalmente reabilitados vários edifícios dentro do Hospital. Por exemplo: o Serviço onde trabalho (Pneumologia – Unidade de Insuficiência Respiratória) foi totalmente remodelado há menos de três anos.
 Neste Hospital, desde há cerca de dois anos, estamos a assistir ao encerramento de edifícios. O edifício da Faculdade de Medicina, agora totalmente abandonado, foi desativado. Alguns Serviços foram já transferidos para o Hospital de Santa Maria e as respetivas instalações, que tinham recebido importantes e dispendiosos melhoramentos, ficaram ao abandono. Há edifícios construídos de raiz que nunca chegaram a funcionar e outros recentemente reconstruídos na sua quase totalidade e com equipamentos de ponta instalados (bloco operatório com várias salas, pronto a funcionar) que foram deixados ao abandono, há mais de um ano, sem qualquer explicação. Aqui não se pode falar de falta de espaço, nem das más condições das instalações do Hospital.
A dívida 300 milhões de euros parece ser o motivo para justificar o encerramento do Hospital. O encerramento paga as dívidas? Como?
Poderíamos dizer que este Hospital não é necessário e que, portanto, esta é uma forma de poupar recursos mas, a realidade parece ser outra, totalmente diferente. Aparentemente, o HPV está a competir perigosamente com o Hospital de Loures, uma PPP que precisa de mais doentes para gerar lucro.
Ao mesmo tempo que se abandonam edifícios recentes, onde já foram gastos muitos milhões de euros, num espaço dentro da cidade, com um Parque Arbóreo raro (tem um plátano com mais de 400 anos, classificado de interesse público em 1945) aprova-se a construção do Hospital de Todos os Santos a  construir em Chelas (sabe-se pelos meios de comunicação social que é uma PPP e que já terá a aprovação da Troika)
O que de mais inacreditável acontece é que o Hospital Pulido Valente é atualmente o sétimo Hospital, em Lisboa, com encerramento planeado! (não contando os que já foram encerrados nesta cidade como os Hospitais de Arrois, devoluto há 20 anos, Desterro, Miguel Bombarda). Mais seis Hospitais de Lisboa, que presentemente estão em pleno funcionamento, vão ser encerrados. Sabe-se também pelos meios de comunicação social que são todos os Hospitais que constituem o CHLC (Centro Hospitalar Lisboa Centro) portanto os Hospitais de S. José, Santa Marta, Sto. António dos Capuchos, Dona Estefânia, Curry Cabral e Maternidade Alfredo da Costa, com um património material, científico, histórico e humano de valor inquantificavel. São Hospitais onde se faz a medicina mais atual. Por exemplo, o Hospital de Santa Marta é um dos poucos Hospitais onde se faz transplante cardíaco e o único Hospital do País onde se faz transplante pulmonar, sendo a Maternidade Alfredo da Costa um Centro de referência em neonatologia e na saúde da mulher.
 Encontram-se, em notícias dispersas, argumentos falaciosos para o encerramento destes seis Hospitais: um Hospital novo e moderno para substituir seis Hospitais velhos e “antiquados” (fazendo a associação errada do Hospital de Todos os Santos a construir em Chelas, para substituir estes seis, à medicina que se deve praticar no século XXI) e que os custos de manutenção de Hospitais já construídos e reabilitados para a prática da medicina mais atual, são maiores que os custos de um Hospital a construir (e também a respetiva manutenção) para substituir todos os outros seis Hospitais (apesar de a OMS recomendar que os Hospitais não devem exceder idealmente as 600 camas).
O espaço ocupado pelos Hospitais de S José, Santa Marta e Capuchos até já têm os projetos de arquitetura e que estiveram em consulta e discussão pública, na Câmara Municipal de Lisboa, até 31 de Julho passado.
Há poucos anos, por meio de engenharia financeira, a Estamo, empresa do Ministério das Finanças, “comprou” estes Hospitais e encomendou discretamente, sem concurso público, os projetos para os terrenos libertados pela destruição dos referidos Hospitais. Também não foi dado a conhecer qual o financiamento mas já há projetos e maquetas pagos (em julho passado foram apresentados em sessão pública na Ordem dos Arquitectos).
Quando em Portugal parecia haver muito dinheiro e a Ministra da Saúde e Secretário de Estado da Saúde eram, respectivamente, Leonor Beleza e Costa Freire (que chegou a estar preso) houve um anúncio de venda do Hospital Júlio de Matos. Foi também encomendado um projeto pelo Ministério da Saúde ao arquiteto Tomás Taveira. Planeava-se a destruição das dezenas de edifícios situados no espaço do Hospital e a construção de um condomínio de luxo. A maquete deste projeto chegou a ser publicada no jornal Expresso. Nesta altura houve a reação dos cidadãos em geral e também dos médicos, historiadores e políticos, que conseguiram evitar até agora a destruição do Hospital e de todos os edifícios que o constituíam. O Hospital Psiquiátrico ficou com menos edifícios e outros foram adaptados para Serviços ligados à Saúde, como a Sede do Infarmed. – Instituto do Medicamento e do Instituto de Sangue. Perderam-se “apenas” os largos milhares de contos pagos na altura pelo projeto do condomínio de luxo na Avenida de Brasil.
Agora, que não temos dinheiro e as dívidas são de milhares de milhões de euros, vão fazer o mesmo com sete Hospitais, com um património de valor inquantificável.
A intenção para o encerramento de tantos Hospitais parece ser só uma: favorecimento dos Hospitais PPP. O esquema de encerramento de todos estes Hospitais também é semelhante: constrói-se um Hospital PPP, que abrange a área do Hospital a encerrar e agrega- se esse Hospital (oficialmente ou não) a um ou mais Hospitais. Os Serviços dos Hospitais que se querem encerrar vão sendo extintos, porque já não se justificam. No caso do Hospital Pulido Valente, o Hospital PPP em questão é o Hospital de Loures (na área do HPV) e o Hospital ao qual recentemente foi agregado é o Hospital de Santa Maria (onde, como é obvio, existem todos os Serviços a encerrar no HPV).
O Hospital Júlio de Matos parece estar também a sofrer do mesmo esquema: encerramento de Serviços, por causa do Hospital PPP de Loures e transferência de algumas valências para o Hospital de Santa Maria. Com os seis Hospitais que constituem o CHLC, a extinção sucessiva de Serviços é mais complicada (pela enorme quantidade de Serviços a extinguir e o atraso na construção do Hospital PPP de Todos os Santos), mas mesmo assim, já está a ser feito com a Maternidade Alfredo da Costa.
 Em Inglaterra, onde foi criado o Serviço Nacional de Saúde, após a Segunda Guerra Mundial e que foi o modelo, após o 25 de Abril, para o nosso Serviço Nacional de Saúde (igualdade de acesso aos cuidados de saúde de todos, independentemente das condições socioeconómicas de cada um) os Hospitais de referência mundial, na sua área de especialidade, são Hospitais centenários, como Royal Brompton Hospital, na área da Pneumologia. Também o St Mary´s Hospital (o hospital onde nascem os príncipes) e o King Edward VII Hospital (também usado pela família real britânica) são Hospitais centenários. Todos eles sitos no centro de Londres.
Provam de uma forma irrefutável, que o Hospital mais moderno e com as melhores condições, pode ser instalado num edifício centenário.
A única explicação para a diferença de comportamento, nos dois países, em relação aos Hospitais é só uma: em Portugal, apesar da desgraça em que nos encontramos, os “Patos- Bravos” são quem verdadeiramente tem poder sobre o nosso património construído, continuando calmamente a fazer os seus negócios …
Mesmo esquecendo todo o Património em causa, onde estão os estudos que provam que são maiores os custos de manutenção dos seis Hospitais construídos e a funcionar em pleno do que a construção e manutenção de um novo Hospital (PPP) para os substituir? Ainda por cima, não se percebe como é possível cumprir com o número máximo de 600 camas, como recomendado pela OMS.
As negociatas estilo IPO/Isaltino/Duarte Lima continuam…
 Como é possível que ainda se continue a conseguir fazer tudo isto como se fosse normal, sem que se tente travar esta gente?
Será que a crise nos fez pensar só em nós e esquecer o bem comum?
Elsa Soares Jara
Médica Pneumologista no Hospital Pulido Valente
Lisboa, 30 de Setembro de 2013


PS : Aconselho a consulta na Wikipédia sobre os Hospitais S. José, Santa Marta, Sto António dos Capuchos, Dona Estefânia.
No Decreto – Lei nº 185/2002 de 20 de Agosto, o Estado associa privados à prossecução do serviço público de saúde, atribuindo-lhes com o nº2, art. 8º do mesmo Decreto-Lei, a conceção, construção, financiamento, conservação e exploração desses estabelecimentos. O  Despacho nº 2025/2007 dos Ministérios das Finanças e da Administração Pública e da Saúde, refere que o investimento público nesta área deve ser orientado para a remodelação, ampliação e beneficiação das estruturas existentes o que é exatamente o contrário do que está acontecer.

Assinem  a Petição : 
«Não ao encerramento de Serviços do Hospital Pulido Valente» no endereço http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=P2013N71443